Reprodução | ||
Tropas se preparam para combate em São Petersburgo nos primeiros dias da Revolução Russa, em 1917 |
-
-
Colunistas
Saturday, 18-May-2024 20:32:06 -03Elio Gaspari
Ao defender autonomia, Ivan Shipov foi um herói do Banco Central russo
26/02/2017 02h00
No ano do centenário do golpe dos bolcheviques em São Petersburgo e do início da Revolução Russa, um domingo de Carnaval é boa ocasião para se falar de Ivan Shipov, um burocrata injustamente esquecido na história daqueles dias. Ele tinha 52 anos, era parte da elite do país e dirigia o banco do Estado da Rússia. Dado o golpe, os bolcheviques precisavam de dinheiro e mandaram buscar dez milhões de rublos com Shipov. A comitiva do comissariado foi recebida pelo burocrata e ele explicou que a instituição tinha "autonomia" e não podia liberar dinheiro desrespeitando as normas da responsabilidade fiscal. Os revolucionários deviam pedir os rublos ao Tesouro, a quem caberia transferir o ervanário para a conta do Soviet dos Comissários do Povo, e só então teriam o dinheiro.
Os bolcheviques levaram a noticia ao aparelho de Lênin e foram mandados de volta a Shipov, desta vez com uma escolta de marujos e um decreto, ameaçando-o de prisão. Nada feito. O comissário de Finanças voltou ao grande Shipov com uma nova escolta, prenderam-no e levaram-no para o QG dos comunistas, onde ele passou pelo menos uma noite.
Sucedeu-se uma greve dos funcionários do banco, a primeira do regime, que se espalhou para toda a rede bancária.
Prático, Lênin dizia que enquanto os comissários não pusessem a mão na chave do cofre, tudo não passaria de conversa. Ele só conseguiu a chave duas semanas depois da tomada do palácio de Inverno.
Uma parte da batalha dos bolcheviques para entrar no cofre do banco do Estado da Rússia e a greve dos bancários de Petersburgo estão contadas no livro "History's Greatest Heist: The Looting of Russia by the Bolsheviks" ("O Maior Assalto da História: O Saque da Rússia pelos Bolcheviques"), de Sean McMeekin. Ele revela que em seis meses os comunistas rapinaram 35 mil cofres. Em 1918, a estatal que coletava riquezas alheias estava confiscando até relógios, saleiros e garrafinhas de perfume.Ivan Shipov perdeu o emprego e pouco se sabe dele. Teria morrido em 1919, de tifo ou de tiro. De sua passagem pelo serviço público restam as bonitas notas de rublos com sua assinatura. O professor Delfim Netto tem uma.
*
Leia outros textos da coluna deste domingo:
- Com aumento das mensalidades, a 'fiesta' do Fies continua
- Competência de Serraglio na época de Cunha traz risco a Temer
- Ao contrário do que Jucá dá a entender, suruba pressupõe seleção
Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.
Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -