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    Érica Fraga - Erica Fraga

    Abandono escolar de jovem tem custo igual a gasto do país com ensino médio

    30/11/2016 02h00

    O trabalhador que tem ensino médio consegue renda bem maior do que aquele que para no fundamental.

    Cada brasileiro que conclui todo o ciclo da educação básica acumula ao longo da vida, aproximadamente, R$ 15 mil (trazidos a valores de hoje) a mais do que seus pares que ficam para trás.

    O problema é que, a cada ano no país, o número dos que não avança é enorme.

    Cerca de 900 mil jovens de 17 anos —espantosos 25% do total— fogem do script todos os anos, pelas mais variadas razões, e não completam o ensino médio.

    Se somarmos o que todos eles deixam de ganhar, temos que o custo privado total da evasão na última etapa do ensino básico é de quase R$ 14 bilhões por ano.

    Os cálculos são do especialista Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper. E ele vai além.

    Com base no que indicam pesquisas internacionais, Paes de Barros também estimou o chamado "custo social do abandono" no ensino médio.

    O jovem que sai da escola prematuramente tem mais chance de se envolver com violência. O gasto público com um adolescente encarcerado é muito maior do que com um aluno de ensino médio.

    Esse jovem tem maior probabilidade de usar drogas, o que pressiona as despesas com saúde pública.

    Ele acaba pagando menos impostos. E assim por diante.

    Tudo isso entra na conta do custo social do abandono escolar pelo jovem.

    Segundo Paes de Barros, se a adição de todos esses fatores como percentual da nossa renda per capita for semelhante ao verificado em outros países, temos um prejuízo de cerca de R$ 35 bilhões por ano.

    Somando, portanto, o custo do abandono escolar pelo jovem para as pessoas individualmente e para a sociedade como um todo, chegamos a um prejuízo de quase R$ 50 bilhões por ano no Brasil.

    Paradoxalmente, esse é o valor que o setor público do país investe anualmente no ensino médio.

    Ou seja, a mesma quantia que é gasta de um lado, é perdida de outro.

    Esses números ajudam a dimensionar a gravidade e a urgência do tema no Brasil.

    Temos demorado —e falhado— tanto que chegamos a um ponto em que precisamos entender melhor as causas do abandono e apontar soluções para saná-las ao mesmo tempo.

    Em um estudo que está conduzindo, apoiado por Instituto Unibanco, Insper, Instituto Ayrton Senna e Fundação Brava, Paes de Barros tenta identificar o que está por trás da elevada evasão escolar no Brasil.

    O objetivo da pesquisa, ainda em fase preliminar, é munir os gestores educacionais com evidências que ajudem a orientá-los sobre os caminhos mais eficazes.

    Até agora, Paes de Barros e sua equipe identificaram 124 práticas pedagógicas distintas que vêm sendo aplicadas pelo Brasil afora no ensino médio.

    É um sinal claro de que estamos atirando para todos os lados, com muito pouca evidência comprovada da eficácia do que está sendo feito nas escolas.

    Isso ajuda a explicar por que temos falhado miseravelmente com nossos jovens e por que o custo dessa falha é tão alto para o país.

    érica fraga

    É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação, às quartas.

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