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    Érica Fraga

    Municípios brasileiros têm dificuldade até para pedir recursos

    31/05/2017 02h00

    Raquel Cunha/Folhapress
    alunos em horário de intervalo das aulas no pátio da Escola Municipal Frei damião,no Grajaú,na zona sul de São Paulo
    Alunos em escola municipal na zona sul de SP

    Nem todos os problemas que enfrentamos em áreas essenciais como saúde, educação e assistência social no Brasil deixam de ser resolvidos por falta de dinheiro.

    Por incrível que possa parecer, às vezes ocorre o oposto disso, e a demanda por recursos fica aquém do esperado por quem os disponibiliza.

    É o que narra a Fundação Itaú Social sobre um edital para destinação de 1% do Imposto de Renda devido pelo grupo Itaú Unibanco para projetos voltados à infância e à adolescência.

    Menos de 10% dos 5.570 municípios brasileiros, representados por seus Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, se candidatam anualmente à partilha dos recursos.

    O montante investido nos projetos selecionados em 2016 somou R$ 11 milhões (incluindo R$ 1,2 milhão do desconto voluntário do IR de funcionários).

    O número de interessados até tem aumentado, mas ainda é baixo: saltou de 314 em 2014 para 380 em 2016.

    Segundo Claudia Sintoni, especialista em Mobilização Social da fundação, o processo de inscrições em 2017 —que está aberto— corre em ritmo parecido ao dos anos anteriores.

    "A gente tem feito um esforço grande para a divulgação do fundo, mas a demanda ainda é baixa", diz.

    Ela ressalta que os projetos selecionados podem trazer propostas diferentes —desde que com foco em crianças e adolescentes vulneráveis—, mas normalmente têm elementos em comum.

    Entre eles, Sintoni lista um grande grau de articulação entre diferentes atores do setor público e da sociedade civil, que têm representação paritária nos Conselhos da Criança e do Adolescente.

    "Um projeto bem-feito parte necessariamente do bom diagnóstico de um problema local e isso quase sempre depende de informações de diferentes segmentos sociais e secretarias", afirma.

    O tamanho do município não é impedimento para isso. Entre os projetos que foram premiados em anos recentes e, segundo a instituição, tiveram bons resultados estão dois voltados para educação integral em duas cidades do Estado da Paraíba, a capital, João Pessoa (quase 800 mil habitantes), e a pequena Poço de José de Moura (pouco mais de 4.000 habitantes).

    O nível socioeconômico também não é uma barreira para o acesso a recursos públicos. O estudo "Excelência com equidade", da Fundação Lemann, identificou escolas que conseguem ótimos resultados educacionais, embora atendam a alunos de baixa renda.

    Segundo Ernesto Martins Faria, economista da instituição, uma das características em comum de redes municipais que se destacam é a boa capacidade administrativa para solicitar recursos disponibilizados pelos governos estadual e federal.

    A questão que precisa ser investigada mais a fundo é por que pouquíssimas de nossas cidades demonstram articulação e capacidade técnica para apresentar projetos que cumpram os critérios mínimos exigidos pelos editais do terceiro setor e das esferas governamentais.

    Provavelmente a resposta passa pela combinação de falta gestão competente e excesso de politicagem. Outro problema sério é nossa baixa tradição de continuidade institucional.

    Troca o governo e, se há mudança de partido, os bons projetos, independentemente de sua efetividade —que, aliás, raramente é avaliada no Brasil—, são engavetados ou descontinuados.

    érica fraga

    É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação, às quartas.

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