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    Érica Fraga

    Em 2018, menos celular e mais tempo com os filhos

    27/12/2017 09h23

    Recebi muitas mensagens quando escrevi sobre meu filho de dois anos que passou a caçar meu celular pela casa e trazê-lo para mim, numa evidente tentativa de agradar.

    Trabalho como jornalista há mais de duas décadas, mas escrever, para mim, não é fácil.

    As ideias até fluem bem. O diabo é convertê-las em palavras, de forma encadeada e harmônica e entregar um texto que agrade a quem importa: sua excelência, o leitor.

    O receio de produzir algo que não interesse a ninguém é inevitável e constante.

    Por isso, é sempre uma boa surpresa quando as mal ou bem traçadas despertam interesse, principalmente se a razão é ter gerado empatia.

    Suspeito que foi o que ocorreu com a coluna sobre a disputa dos filhos e das redes sociais por meu tempo. Percebi que a luta para aumentar a fatia de horas destinada a eles e reduzir a parcela dedicada a elas não é exclusividade minha.

    Não sei como tem sido com vocês que também passam por isso. Por aqui, nada fácil, mas, desde que admiti para mim mesma e compartilhei o problema, acho que avancei um pouco.

    Alguns experimentos deram certo. Outros, não. A solução mais eficaz vem sendo a mais radical: deixar o celular longe.

    Se estou em casa, dentro da bolsa. Se saio e sei que seu uso não será imprescindível, simplesmente não o levo.

    Em dia de natação do meu filho do meio, quando o caçula me acompanha, virou regra: celular não vai junto de jeito nenhum.

    Nas vezes em que estou trabalhando de casa e consigo escapar para levar ou buscar a turma na escola, também tento praticar o desapego do aparelho.

    Não funciona sempre. A tentação de checar se algum recado me espera na telinha é grande. Especialistas dizem que o mecanismo de satisfação gerado pelos "likes" e mensagens em nosso cérebro é viciante.

    Além da sensação de prazer, existe a questão da utilidade. Não há como negar que a internet e as redes sociais têm o potencial de aumentar nossa eficiência e a qualidade do nosso trabalho.

    Mas nesses meses de luta consciente para observar o tempo que dedico a buscas e leituras na rede e ao WhatsApp, percebi que existe uma linha tênue entre ganho de produtividade e atraso de vida. Ultrapassá-la é fácil.

    Às vezes, na melhor das intenções, você escorrega e, oops, passa para o outro o lado. Em vez de usar a tecnologia a seu favor e ficar mais eficiente, acaba apenas passando mais horas em frente às telas, não necessariamente produzindo mais ou melhor.

    Tenho tentado prestar atenção e mensurar o tempo que gasto revisando e-mails (em sua vasta maioria, inúteis), pesquisando e vagando na rede, olhando a tela do WhatsApp. Onde há excessos —e eles existem em todas as frentes— vou testando novos freios.

    Alarmes, decretos de "uma hora sem olhar nada", filtros mais rigorosos de busca, limites de quanto tempo posso passar pesquisando para determinado trabalho, e por aí vai.

    Não estou plenamente satisfeita com o resultado (e quando estamos, não é mesmo?), mas continuarei tentando.

    Minha lista a ser perseguida em 2018 se limita a um item: menos tempo na rede e mais tempo com as crianças.

    A internet pode viciar, mas eles, sem dúvida, me fazem mais feliz.

    Saio de férias hoje. Desejo uma ótima passagem de ano a todos.

    érica fraga

    É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação, às quartas.

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