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    Fabio Victor

    No governo Temer, tirania da minoria leva à estabilidade das trevas

    14/08/2017 02h00

    Marcelo Chello/CJPress/Folhapress
    Presidente Michel Temer e prefeito João Doria assinam acordo para transferir parte do Campo de Marte, em SP, para construir parque
    Presidente Michel Temer e prefeito João Doria assinam acordo para transferir parte do Campo de Marte, em SP, para construir parque

    Teve vida útil de uma bolha de sabão a balela de Temer de aumentar o Imposto de Renda dos ricos. Pouco importa se o propósito era barganhar apoio no Congresso para as reformas: a quem Temer tentou enganar ao dar vazão à informação?

    Como um governo a serviço do agronegócio, da indústria e da banca –de quem, enfim, lastreou sua farsesca ascensão ao poder– seria capaz de apoquentar essa fatia minúscula que o apoia, cerca de 5% dos brasileiros?

    Representados no Congresso pelas bancadas BBB (boi, bala e Bíblia), esses 5% têm sido vitoriosos, diante da inércia do restante do país, em sua escalada rumo a uma espécie de "tirania da minoria".

    Temer lhes atende com leis, MPs e decretos, facilita a grilagem e o desmatamento, concede benesses e perdoa dívidas, esvazia a Funai, indica que o Estado brasileiro pouco se importa com chacinas nas profundezas do país.

    Não é à toa que nesse caldo viceje a deterioração dos direitos trabalhistas e a pegadinha de que a Justiça brasileira é benevolente com o empregado e tirana com o empregador.

    Mas Temer sobrevive. Em nome da estabilidade, disseram os bacanas que livraram o presidente acusado de corrupção de ser investigado pelo Supremo. Sim, em nome da estabilidade das trevas.

    Enquanto isso, o PT se faz de morto. Em vez de usar o que lhe resta de capacidade de mobilização para se insurgir contra esse circo de horrores, prefere dar soquinhos cenográficos em Temer e torcer para que o presidente sangre até 2018.

    É, assim, cúmplice da estabilidade das trevas.

    *

    Doria, novo flerte de Temer, faz aposta arriscada ao correr o país como pré-candidato a presidente –o que o obriga a conciliar a Prefeitura de São Paulo com sua nova obsessão.

    Como não tem experiência na máquina pública e seu verniz de bom gestor descascou às primeiras lufadas de realidade, pôr um pé em outra canoa pode lhe custar caro. Se apostava num êxito à frente da maior cidade do país como cartão de visitas, ao não mostrar resultado e passar a impressão de que só pensa em outra coisa, que trunfo terá numa eventual disputa?

    O Brasil, Doria começa a notar, é muito maior que São Paulo. Serra e Alckmin o aprenderam a duras penas nas derrotas de 2002, 2006 e 2010.

    A ovada em Salvador foi um sinal. Mesmo com o atenuante de que se trata de um protesto secular, menos grave que os deploráveis escrachos que viraram moda por aqui, tacar ovo só contribui para agastar ainda mais um país em nervos.

    Mas não custa lembrar que o prefeito, cuja compulsão anti-Lula beira a demência, é um dos responsáveis pela retórica belicista que marca essa quadra histérica e mal-educada da nossa história.

    fabio victor

    Repórter especial da Folha , foi correspondente do jornal em Londres, editor-adjunto da "Ilustrada" e fez coberturas jornalísticas em 30 países.

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