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    Fábio Seixas

    Alma lavada

    28/06/2012 03h00

    Após a vitória, uma paradinha para pegar a bandeira. Logo depois, o carro para de vez, no meio da pista. O piloto desce, cercado por fiscais que vibram. Arquibancadas em delírio. No pódio, o choro.

    "A Espanha não vive seu melhor momento. Essas pessoas fizeram sacrifícios para estar aqui, dormiram dentro dos carros, em qualquer lugar, para poder ver a corrida. Há uma crise. Mas o esporte, hoje, provoca aquele orgulho de ser espanhol. Tem o Nadal, tem a seleção... E eu sentia que deveria fazer algo."

    Alonso acrescentou mais um capítulo, no domingo, ao antigo debate sobre nacionalismo e esporte. Uma relação que já foi usada para o mal, teve objetivos políticos, confundiu-se com diplomacia e, não raro, descamba para a violência pura, deixando mortos e feridos.

    Mas que, de vez em quando, também produz alívio em meio a problemas maiores. Um sentimento familiar por aqui. As cenas descritas no primeiro parágrafo devem ter levado alguns leitores (você?) a pensar em Interlagos-91.

    Além do talento e dos títulos, das frases de efeito e da dramaticidade da morte, Senna é o ídolo que é porque recebeu e assumiu o papel de única coisa boa no país na virada dos 80 para os 90.

    O futebol acumulava vexames, a situação econômica era complicada, a volta da eleição direta para presidente resultava em frustração... Mas Senna estava lá, levando a bandeira e o país.

    Por tudo o que acontece dentro e fora das pistas, Alonso começa a ganhar aura parecida na Espanha.

    Na segunda-feira, a capa do "Marca", principal diário esportivo do país, trazia a foto do ferrarista com a bandeira e a manchete "Ganhar, ganhar, ganhar; Somos a Espanha". O "El País" comparou-o a heróis, escrevendo que ele abriu caminho pelos adversários "como que usando um facão pintado de vermelho".

    Não, não parece a Espanha deprimida, do desemprego, dos pedidos de ajuda. É um outro país.

    E há quem diga que esporte é apenas entretenimento.

    ALERTA

    A euforia dos torcedores é compreensível --torcedor é para isso mesmo--, mas Alonso e Domenicali foram muito bem ao dizerem-se preocupados com o ritmo da Ferrari. Não fosse o problema no alternador, Vettel teria vencido com folga acachapante. A Ferrari precisa melhorar em treinos classificatórios. Milagres como o de domingo passado não acontecem sempre.

    PRIMEIRA

    Outro que levantou bandeira no final de semana foi Nelsinho. Sua vitória na Nationwide, a segunda divisão da Nascar, foi um passo importante no seu projeto de correr lá em 2013 e, um dia, chegar à categoria principal. Antes, porém, tem sua luta pelo título da Truck Series. Hoje, ele é o sexto no campeonato, a 38 pontos do líder. Mas ainda dá para chegar.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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