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    Fábio Seixas

    40 anos depois

    DE SÃO PAULO

    14/09/2012 03h25

    Pode ser apenas uma coincidência. Mas tenho a impressão de que é coisa pior, e com consequências que já pulsam.

    Barrichello ficou por seis anos na Ferrari. Porque era competente nas tarefas de colher pontos e combater os adversários. Mas, principalmente, porque o dono da situação, Schumacher, o queria ali.

    Era cômodo. Ok, às vezes falava algo mais pesado, extravasava. Mas mesmo isso foi controlado ao longo dos anos. Em nenhum momento foi ameaça a um dos cinco títulos do alemão pela equipe.

    Massa está em sua sétima temporada pela Ferrari. A terceira como companheiro de Alonso. Negocia, agora, a renovação do contrato. E, se é verdade que não consegue replicar a eficiência do antecessor na missão de roubar pontos de adversários, carrega ao menos o segundo trunfo. Não ameaça o dono da situação --e chia menos.

    Para quem acha que essa é uma impressão enviesada, de quem está no Brasil ou é exigente demais porque saudosista, seguem dois relatos que vêm do além-mar...

    Está na "Autosprint", a principal revista italiana de automobilismo: "A missão de Massa em Monza era lutar contra a McLaren lá na frente, sem perder de vista o avanço de Alonso atrás de si. Até o momento de renunciar àquele que talvez fosse seu único pódio do ano e, quiçá, o último da sua carreira".

    Está no site GPUpdate, um dos bons: "Muita gente espera que Pérez seja anunciado como companheiro de Alonso. Mas informações que vêm de Maranello indicam que o espanhol defende Massa, para correr menos riscos".

    Caso Massa renove, serão 13 anos em que o principal piloto do país na F-1 esteve na posição de subserviência ao companheiro --não serão 14 por causa de 2008, cada vez mais com ares de incidente.

    Daí a impressão de não ser coincidência: 13 anos são suficientes para transformar costumes, hábitos, culturas. O brasileiro que começou a ver F-1 neste século não sabe o que é ter alguém lá na ponta. Torcedores já se acostumaram. A vontade foi esquecida. E isso pode influenciar gerações de pilotos.

    A atitude de Massa já é produto dessa fase. Ele via Barrichello. E os que o veem hoje acham "normal" o que acontece. É um ciclo.

    Foi significativo que, 40 anos depois de Emerson conquistar o primeiro título do Brasil, Massa, na mesma Monza, tenha dado passagem ao companheiro. E o pior: foi totalmente justificado, sem crise. Foi "normal".

    Triste nova normalidade.

    GRANDE

    Sid Watkins, morto anteontem, aos 84, foi dos principais personagens da história da F-1. Foi o responsável em parar com a carnificina e tornar o esporte o mais seguro possível. Ficará na memória.

    fabio.seixas@grupofolha.com.br

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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