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    Fábio Seixas

    Era Vettel

    01/11/2013 03h00

    O ano era 1999, e a geração não era das melhores.

    A F-1 estava repleta de pilotos veteranos e medíocres, alguns reunindo ambos os rótulos.

    Salo, Gené, Fisichella, Badoer, Wurz, Panis, De la Rosa, Herbert, Ralf, Trulli e Takagi, só para citar metade do grid, não suscitavam suspiros de admiração ou esperança de dias melhores.

    Já vivendo o início da queda que dura até hoje, com a recusa de se associar integralmente a uma montadora, a Williams teve uma boa sacada.

    Para 2000, promoveu um "vestibular". Colocou dois jovens para testar, Button e Junqueira.

    Aos 20, ainda na F-3, o inglês ganhou a parada.

    Um episódio já distante, que pode parecer detalhe, mas que tem relação direta com os zerinhos de Vettel em Greater Noida, no domingo passado.

    Button não foi o piloto mais precoce de todos os tempos --àquela altura, era o sexto mais jovem a iniciar um GP. Mas foi o primeiro a conseguir algum sucesso. E rápido.

    Pontuou logo na segunda corrida. Terminou aquele campeonato em oitavo. Mais: simpático, bonitão, bom papo e inglês, revelou ser ótima ferramenta de marketing. Era o contraponto àquele grid rançoso.

    A F-1 descobriu que, ops, valia a pena olhar pra molecada.

    O custo para a equipe é baixo, o risco também. Se não der certo, é só trocar. Se funcionar, é ganhar na loteria.

    A partir de então, o grid foi se tornando mais jovem. No ano seguinte, Alonso, 19, e Raikkonen, 21, ganharam suas chances. E por aí a onda foi.

    Foi, foi e chegou em Vettel. Dispensável falar sobre o impacto da sua juventude para a categoria.

    Não é coincidência que, no ano que coroou o mais jovem tetracampeão da história, dois quase-adolescentes tenham sido anunciados.

    Sirotkin, 18, e Kvyat, 19, ambos russos, correrão em 2014 por Sauber e Toro Rosso, respectivamente. É lógico, é prático, é vantajoso. É irreversível.

    O que vai acontecer? Já está acontecendo.

    Até os anos 80, eram comum ver pilotos que pareciam os tiozões do boteco da esquina: obesos, alguns bigodudos, outros com cabelos de menos, fumantes.

    Senna iniciou a era da preocupação com a preparação física, e hoje pilotos mais parecem atletas de triatlo --vários realmente são e disputam provas pesadas entre um GP e outro.

    A era Vettel está aí. E tem a cara dele e dos moleques que conseguirem chegar, mostrar resultados e se manter na categoria.

    Como toda era, chegará ao fim. Mas este dia ainda está distante. Basta olhar as certidões de nascimento dessa moçada toda.

    Sirotkin e Kvyat só entrariam no boteco da esquina para comprar bala e tomar guaraná. Novos tempos.

    fseixasf1@gmail.com

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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