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    Fábio Seixas - Marcel Merguizo

    Bancas vazias

    DE SÃO PAULO

    06/12/2013 03h00

    Há alguns muitos anos, quando não existia a internet, a salvação para quem morava em São Paulo e buscava revistas importadas era a Laselva do aeroporto de Congonhas.

    Custava caro, mas as semanais "Autosport", inglesa, e a "Autosprint", italiana, chegavam antes lá. E, por "antes" --sei que isso vai soar admissão de dinossaurismo--, estou falando em dez dias depois da publicação.

    Uma ou outra banca da Paulista ou dos Jardins também recebia um ou outro exemplar de uma ou outra revista numa ou outra semana. E só.

    Mas tudo bem. Porque havia bons títulos nacionais, a "Grid", da Abril, como o mais nobre exemplo. Lemyr Martins viajava para todos os GPs e relatava as aventuras de Piquet, Senna e cia. na F-1.

    E ainda havia toda a cobertura do automobilismo nacional: kart, F-Ford, F-3, Stock Car...

    Hoje, dá para baixar a "Autosport" e a "Autosprint" no celular ou no tablet. Custa baratinho, o preço de banca na Europa.

    E isso suscita algumas reflexões.

    A começar pela constatação de que as duas revistas europeias ainda circulam enquanto a "Grid" tornou-se apenas uma vaga lembrança da velha geração.

    Seguindo pelo fato de que o Brasil consegue publicar apenas uma revista nacional de automobilismo, a "Racing", ainda assim mensal.

    Terminando pela resignação que abateu este colunista ao folhear, virtualmente, a edição desta semana da "Autosprint".

    São 84 páginas. Trinta são dedicadas à F-1: os projetos da Ferrari para 2014, a confirmação de Maldonado na Lotus, a despedida de Brawn da Mercedes, os boatos de mudanças na Toro Rosso, um perfil de Sirotkin e até o feito de Chilton, décimo da história a terminar todos os GPs de uma temporada.

    O segredo não está aí, mas nas 54 páginas restantes.

    A revista faz uma ampla cobertura dos títulos da Ferrari e de Bruni (lembram dele?) na categoria Pro do Mundial de Endurance. Traz uma reportagem com italianas que pilotam em categorias importantes do Turismo. Mostra a experiência de um comediante local ao volante de um carro da AutoGP. Faz um raio-x do mercado de pilotos do Mundial de Rali, com Kubica sendo a bola da vez. E segue assim...

    Enquanto isso, por aqui, no domingo a semana começou com a informação de que o Brasileiro de GT será extinto. E a F-3, no final de semana, encerrou sua temporada com nove carros no grid.

    Sem ter o que noticiar, é difícil manter um veículo de comunicação. Sem um veículo de comunicação, é difícil divulgar uma categoria. Um círculo vicioso.

    A saída é acompanhar o que rola lá fora, morrendo de inveja. Aqui, cada vez mais, pistas e bancas estão vazias.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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