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    Fábio Seixas

    O filho do sushiman

    24/01/2014 03h00

    Filho de um sushiman em Tóquio, Kobayashi teve uma chance na F-1. Uma.

    Em 2009, foi convocado pela Toyota para substituir Glock no GP Brasil. O alemão se recuperava de uma forte batida em Suzuka, duas semanas antes. Button sagrou-se campeão mundial naquele domingo, mas os comentários após a corrida foram sobre o novato.

    Debaixo de chuva, o japonês conquistou o 11º lugar no treino classificatório. Terminou a prova em 9º. E, entre uma coisa e outra, impressionou a F-1: travou belos duelos com Button, Vettel, Nakajima e Fisichella.

    Fez algo sobre o qual já escrevi aqui algumas vezes: piloto especial mostra serviço logo de cara.

    Deu certo. Foi mantido na Toyota por mais um GP, ganhou contrato com a Sauber em 2010 e ficou por lá até 2012.

    O sonho, porém, foi pro vinagre. Hulkenberg apareceu com resultados promissores, com mais dinheiro e tomou sua vaga no ano passado.

    Um fim de história parecido com o de muitos outros pilotos, vários brasileiros incluídos. Normalmente, o posfácio mostra o sujeito migrando para alguma outra categoria e sumindo, sumindo, sumindo...

    Kobayashi até foi para o GT. E com classe: disputou o Mundial de endurance com a Ferrari. Mas mudou o resto do roteiro. De forma inédita e brilhante. "Estar de volta é um sentimento grandioso", disse o japonês na última terça-feira.

    Kobayashi tornou-se nesta semana o primeiro piloto a conseguir correr na F-1 com um esquema de crowdfundig. Financiamento coletivo via internet. Vaquinha virtual.

    Não se resignou. Foi atrás de seu sonho. Levantou quase US$ 2 milhões e arrumou uma vaga na Caterham. Mais: abriu mão de salários. Ele quer é correr.

    Quer tanto que recusou uma proposta da Ferrari. A escuderia italiana lhe ofereceu um novo contrato para ficar no endurance, além de uma intensivão no simulador de F-1, aceno para uma futura vaga de piloto de testes.

    Kobayashi pode não ser um virtuose do volante, mas sua presença no grid vai tornar as corridas mais animadas.

    De origem simples, deu uma lição a ex-colegas que preferem reclamar da vida e da má sorte a arregaçar as mangas: não desistir.

    Ah, sim: Kamui, escrito em kanji, pode ser interpretado como "realizando grandes sonhos".

    *

    A pré-temporada começa na próxima terça, em Jerez de la Frontera. Das 11 equipes, apenas a Lotus não deve aparecer. Serão 12 dias de testes até a abertura do Mundial, em 16 de março, em Melbourne.

    Depois de Force India e Williams mostrarem as caras (feias) de seus novos carros, hoje é a vez da McLaren. Amanhã, a Ferrari. Sem as suntuosas festas de outrora: será tudo pela internet.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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