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    Fábio Seixas

    Volta por cima

    07/02/2014 03h00

    Quem só acompanha F-1 ou nem isso talvez não conceba o tamanho da notícia divulgada no início da semana.

    Di Grassi foi escolhido para formar o trio com Kristensen e Duval no Audi número 1 que disputa o Mundial de endurance.

    É um gigantesco acontecimento para o automobilismo brasileiro. Anúncio que, nos últimos anos, só tem paralelo na contratação de Barrichello pela Ferrari, em 1999, e nas conquistas de Helinho, Gil e Tony em Indianápolis.

    As razões são muitas.

    O Mundial de endurance, ou WEC, sigla em inglês, é o campeonato que mais cresce nos últimos anos.

    O tripé tecnologia-custos-exposição é o mais atrativo.

    Os carros são moderníssimos, quase que modelos de F-1 com rodas cobertas, com o adicional da alta resistência para aguentar provas de até 24 horas. A turma da ponta conta com motores híbridos, com supercapacitores semelhantes ao Kers.

    Os custos são bem mais baixos que na F-1. Um time como a Audi consome por ano € 100 milhões, algo como R$ 324 milhões. A Ferrari gastou em 2013, dizem, € 345 milhões, ou R$ 1,1 bilhão –para não ter chances no campeonato, diga-se.

    E há o caráter mundial do negócio. São oito etapas distribuídas por Europa, América do Norte, América do Sul, Oriente Médio e Ásia. Com Le Mans, uma das três provas míticas do automobilismo, como a cereja do bolo.

    Não por coincidência, mais e mais fábricas começam a enxergar o WEC como alternativa à F-1.

    A Audi e Toyota, que competem desde o primeiro ano, juntar-se-á a Porsche, maior vencedora das 24 Horas de Le Mans –com Webber como principal piloto. No ano que vem, a Nissan terá sua equipe. Há rumores de que a Ferrari será a próxima. Tudo indica que é só o começo.

    É neste ambiente efervescente que desembarca Di Grassi. O mais técnico piloto brasileiro a passar pela F-1 nos últimos anos. E que só não conseguiu ficar na categoria porque correu por uma equipe-sucata, a Virgin, sem dinheiro para arrumar vaga melhor.

    No ano passado, correndo com a Audi nas duas provas do WEC em que a montadora inscreveu três carros, conseguiu dois terceiros lugares. Seus insights técnicos impressionaram Wolfgang Ullrich, o exigente comandante do programa de endurance da montadora.

    Pronto. Levou a vaga de McNish, que se aposentou com três vitórias em Le Mans no bolso do macacão.

    Oito vezes campeão da F-,1 seis vezes vencedor em Mônaco, dono de sete anéis de Indianápolis, o Brasil terá neste ano sua melhor chance de vencer a prova que falta. Le Mans.

    Mas a glória será toda de Di Grassi, que buscou tudo sozinho. O automobilismo brasileiro, como estrutura, como organização, não fez nada por ele.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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