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    Fábio Seixas

    Pressão total

    28/02/2014 03h00

    Naoki Tokunaga é hoje o homem mais pressionado do esporte.

    Não se engane pelo nome e pela origem. O japonês é chefe de uma das mais francesas das marcas francesas. Comanda o programa de F-1 da Renault. E está na berlinda desde o começo da semana, quando a Red Bull decidiu escancarar os problemas que vem enfrentando.

    O porta-voz da insatisfação foi Helmut Marko, ex-piloto, consultor do dono da fábrica de bebidas energéticas para assuntos de automobilismo.

    Na terça, em entrevista para um jornal austríaco, Marko falou abertamente sobre a crise da equipe. E, sem rodeios, apontou o dedo para a Renault.

    Algumas frases que, meses atrás, pareceriam ficção: "estamos enfrentando dificuldades muito complexas", "é uma questão de todo o conjunto do motor", "resolvemos um problema e caímos em outros", "os outros times que usam motores Renault estão em situação idêntica".

    E por aí vai...

    São dois os problemas dos motores franceses, ambos gigantescos.

    O primeiro é de superaquecimento e não é exclusividade da Renault. Outras montadoras e equipes passaram por isso na pré-temporada e estão correndo para buscar soluções.

    A mais simples é abrir novas entradas de ar na carenagem, num cálculo delicado para resolver este problema e não causar outro, o prejuízo à aerodinâmica.

    A Red Bull já tentou isso, ainda em Jerez. Mas não adiantou muito. O buraco é mais embaixo –ou mais quente, como prefiram.

    O segundo problema, ironicamente, foi mencionado por Tokunaga no site da "Wired" em janeiro, dias antes de os primeiros carros irem à pista.

    "Na essência, fabricantes de motores sempre competiram para ver quem produzia mais potência", disse. "Agora, a competição é por sistemas mais inteligentes de armazenamento de energia."

    É o tal conceito de "unidade de potência", termo que a F-1 tenta emplacar para definir todo o conjunto de motor e sistemas de reaproveitamento de energia –cinética e térmica.

    Aí é que mora o busílis. Para quem sempre fabricou motores, não é simples mudar o foco e se concentrar na produção de baterias eficientes. A Renault ainda não aprendeu.

    (Vale a lembrança: nos últimos anos, os poucos problemas que os carros-berinjela enfrentaram foram com o Kers.)

    Daqui a duas semanas, já estaremos comentando os primeiros treinos livre em Melbourne, e nada indica que a vida de Tokunaga estará mais fácil. Muito pelo contrário.

    Ontem, na abertura da última bateria de testes, as quatro equipes com motor Mercedes deram 431 voltas. E uma delas, a Force India, fez o melhor tempo. As quatro com Renault deram 144 voltas. E o melhor carro foi a Red Bull de Ricciardo, em sétimo.

    Eu não queria estar na pele de Tokunaga.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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