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    Fábio Seixas

    Encruzilhada

    04/04/2014 03h00

    Fim do GP da Malásia, Bottas se aproxima de Massa, pede pelo rádio para que o brasileiro abra passagem.

    Hoje não? Hoje sim? Áustria-2002?

    Hoje não: o que veio à minha cabeça foi outro episódio.

    Que não envolveu brasileiro, mas que teve circunstâncias mais semelhantes com as de domingo passado. Porque, em um lance, rotulou dois pilotos.

    Melbourne, 8 de março de 1998. O início de um campeonato cercado de incertezas, a saída da principal fornecedora de motores, a estreia dos pneus com sulcos, a sensação de trono vago –sem a Renault, Villeneuve não teria como defender o título.

    Haveria um pote de ouro no fim da temporada, e a dupla da McLaren esfregava as mãos. Ao lado de Schumacher, eram os favoritos. Situação que ficou clara no primeiro grid do ano: pole de Hakkinen, seguido por Coulthard. O alemão abria a segunda fila.

    Largada. E as McLaren sumiram na frente, abrindo 3 segundos por volta do resto do pelotão. Na sexta volta, Schumacher abandonou com problemas de motor. Na 18ª, a diferença de Coulthard para os demais chegou a 55 segundos. Boa parte das incertezas se foi. Começou a se desenhar, ali, uma temporada prateada. A F-1 teria um campeão inédito.

    Houve, então, um problema de comunicação. Hakkinen entrou nos boxes sem que a equipe estivesse pronta para recebê-lo. Coulthard assumiu a liderança e começou a abrir. Rumava para a vitória. Daria um passo à frente na disputa interna pelo título. Até que...

    A três voltas do fim, desacelerou. Permitiu que o finlandês o ultrapassasse, segundo ambos, para respeitar um acordo de cavalheiros. Quem fizesse a primeira curva na frente, mereceria a vitória.

    A história da F-1 registra Hakkinen como bicampeão mundial. E Coulthard como um bundão.

    Massa esteve diante deste dilema em Sepang.

    A Williams não disputará o título, mas tem tudo para fazer sua melhor temporada em anos. É uma equipe que está na vitrine, que suscita expectativa. Do ponto de vista pessoal, o brasileiro busca um ressurgimento após as últimas apagadas temporadas pela Ferrari.

    Uma encruzilhada a 300 km/h, enquanto o rádio martelava a antiga frase. "Faster than you, faster than you."

    Um momento crucial para a carreira. Aos 32 anos e em seu 193º GP, manter os sonhos de um dia ser campeão? Ou obedecer a equipe, dar passagem para um garoto de 24, em sua 36ª corrida, e rotular de vez a carreira com a pecha da subserviência?

    Massa fez a escolha.

    Mas a partir do Bahrein precisa cuidar para que Bottas não tenha nova chance. O discurso está certo, mas precisa vir acompanhado de ação. Velocidade, no caso.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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