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    Fábio Seixas

    Esperança vermelha

    09/05/2014 02h00

    Leo Turrini é um jornalista italiano com algumas qualidades.

    Uma delas é saber de cor a escalação do Brasil na Copa de 82, com direito a detalhes. Em idas e vindas em vans de autódromos mundo afora, nossa diversão era desafiar seus conhecimentos sobre Sócrates, Zico, Falcão, Éder, Cerezo e cia.

    Uma outra qualidade é ser o jornalista mais bem informado sobre a Ferrari. Trabalha para um jornal de Bolonha, "Il Resto del Carlino", que também tem algumas qualidades.

    Uma delas é a origem do nome –pesquisem e se deliciem. A outra é ser independente, um contraponto à "Gazzetta dello Sport" –que, como a escuderia, pertence à Fiat.

    Pois o jornalista e o jornal revelaram que Brawn esteve na Ferrari na segunda-feira. Leo é bem-humorado e listou alguns motivos que teriam levado o engenheiro a sair de sua casa, na Inglaterra, para viajar até Fiorano.

    Brawn teria ido comprar bananas na quitanda que tanto frequentou entre 1997 e 2006.

    Melhor: teria ido comprar uma Ferrari, após tantos anos ganhando altíssimos salários.

    Ou Mattiacci, o novo chefe ferrarista, é um homem muito inteligente e persuasivo.

    Brawn deu entrevista à "Gazzetta", vejam que coincidência, dizendo que estava apenas passeando por vinícolas com um grupo de amigos e que decidiram testar umas Ferraris.

    Explicação estapafúrdia por quantos lados você quiser enxergar.

    A volta de Brawn é não apenas a saída óbvia como a melhor possível para a Ferrari. E Mattiacci, chegando agora, claramente ouviu isso de muita gente.

    O engenheiro inglês era o melhor cérebro do "dream team" que conquistou tudo entre 2000 e 2004. De lá pra cá, só melhorou o currículo.

    Teve a honra de ser campeão mundial com uma equipe batizada com seu nome e deixou a Mercedes em águas tranquilas para arrebatar a temporada de 2014.

    Mais: sabe todos os segredos por baixo das carenagens prateadas. Mais ainda: se enquadra no espírito defendido por Montezemolo de fins que justificam meios.

    Negociações deste porte levam tempo, e duvido que Brawn aceite entrar na barca furada que é a Ferrari deste ano. Mais provável que assuma no meio da temporada, já totalmente voltado para o projeto de 2015, começando tudo do zero, mandando e desmandando.

    Para ele, que perdeu espaço político na Mercedes, seria uma bela volta por cima. Para a Ferrari, seria a maior esperança –inclusive, de reter o insatisfeito Alonso. Para a lisura do esporte, tenho minhas dúvidas.

    Para Leo e seu modesto "Il Resto del Carlino" seria mais um belo furo. Resultado de apuração jornalística de verdade, sem Google ou redes sociais. Que bom quando isso (ainda) acontece.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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