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    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    Linhas cruzadas

    18/07/2014 02h00

    Desta vez, a F-1 foi vítima.

    Você já deve ter lido por aí: Nico Rosberg encomendou um desenho especial no capacete, celebrando o tetracampeonato da seleção alemã, mas teve de tirar da pintura o troféu da Copa do Mundo.

    A Fifa impôs a mudança, alegando "reprodução não autorizada de propriedade intelectual".

    Rosberg obedeceu. No lugar da figura proibida, entrou uma estrela com o número 14.

    "É uma pena, mas existe uma questão legal que é claro que eu tenho de respeitar", escreveu o alemão no Twitter, sugerindo estar pasmo com a ordem que recebeu.

    Pegou mal para a Fifa. Soou antipático. Rosberg não queria nada além do que celebrar sua primeira Copa do Mundo –tinha 6 anos quando Matthäus ergueu o troféu de 1990. De quebra, o GP é na Alemanha.

    Numa primeira análise, é também um tiro no pé da entidade que rege o futebol. A Fifa brecou uma exposição espontânea na "casa do vizinho". O ícone da Copa –e do futebol, por consequência– seria visto por milhões de pessoas que curtem automobilismo.

    A imprensa alemã foi atrás da história e descobriu sua origem.

    Rosberg pilota para a Mercedes. Seu capacete tem o logo da Mercedes. Mas a marca de carros que patrocina a Copa é outra: a Hyundai.

    O atual contrato da montadora sul-coreana com a Fifa foi assinado em 2010 e vai até 2022. Valores são confidenciais, mas especialistas em marketing esportivo estimam desembolso anual de cerca de US$ 35 milhões. Há apenas outras cinco empresas no mesmo nível de patrocínio da Hyundai. Não é pouca coisa.

    Noves fora as razões mercadológicas e financeiras, porém, este colunista acha que a proibição ao troféu no capacete é uma enorme besteira.

    E esclarecer é preciso. A FIA e a FOM fazem exatamente a mesma coisa, o tempo todo.

    Usa da mesma mentalidade quando caça vídeos de corridas no Youtube e nas redes sociais, por exemplo. Quando cobra caro por aplicativos para acompanhar os GPs, investimento que tranquilamente poderia ser bancado por patrocinadores.

    Nesta semana, diante da convocação feita por Montezemolo para que a categoria discuta seu futuro, Jean Todt admitiu que há um problema na comunicação da categoria com o público.

    "Motores híbridos são a direção certa, mas fomos inábeis na divulgação disso", exemplificou o presidente da FIA.

    Sim. Mas se você criar e lançar na rede um vídeo didático mostrando um carro de F-1, explicando KERS, ERS e outros trambolhos, não demorará a ser notificado pelos advogados de Ecclestone.

    O mesmo capital que move o esporte de ponta, hoje, às vezes o trai. Decreta atitudes antipáticas. Essa sintonia é complicada. Fifa e FIA frequentemente não sabem fazê-la.

    fseixasf1@gmail.com

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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