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    Fábio Seixas

    Dez anos

    DE SÃO PAULO

    12/09/2014 02h00

    Foi numa sexta-feira. A sala de imprensa de Monza estava lotada. Mas eu me sentia só.

    Quase um transe. A tela do computador em branco, opressora como nunca, impondo ser preenchida. Tanto para escrever, mas tão difícil definir assunto que fizesse jus àquele momento, àquela responsabilidade.

    Há exatos dez anos, presente de Melchiades Filho, assumi a coluna de esporte a motor da Folha.

    Foi sofrido, mas o primeiro texto saiu. (Uma rotina, eu entenderia depois.)

    Foi sobre Pizzonia, que em Spa chegou perto do pódio. Era terceiro mas, a 12 voltas do fim sua Williams ficou pela pista. Ele substituía Ralf, após uma pancada em Indianápolis.

    "Voltou aos boxes de olhos vermelhos. Ele nega o choro. Diz só que ficou desapontado (...) Chances são artigo de luxo na F-1", escrevi, na ocasião.

    São mesmo. Pizzonia, então grande promessa, não chegou lá.

    Dez anos.

    Não tenho estatísticas, mas acredito que três personagens tenham sido os mais frequentes.

    Schumacher. Que tinha sido pentacampeão na corrida anterior à minha estreia, tornou-se hepta, aposentou-se, retornou, acidentou-se. Não é mais o Schumacher que conhecemos.

    "O que explica um multimilionário, deixar todo mundo em casa por mais um final de semana para correr uma prova de um obscuro campeonato de motociclismo?", indaguei em fevereiro de 2009, quando ele sofreu uma queda na Espanha.

    Barrichello. Que foi vice-campeão ao fim daquele 2004, bateu o recorde de GPs em 2008, perdeu uma grande oportunidade em 2009, foi pra Indy em 2012, tornou-se comentarista em 2013, venceu a primeira na Stock em 2014.

    "Barrichello, não só no Brasil, tornou-se um case. Um adjetivo. Um sinônimo para segundo piloto (...) Injusto? Se analisado o conjunto da obra, sim. Ele fez milagres com a Jordan e com a Stewart. Mas quem disse que rótulos são justos? O que grudou foram seus anos de Ferrari", escrevi em outubro de 2010.

    Massa pulou para a Ferrari em 2006, fez Interlagos explodir e murchar por uma curva em 2008, busca se reafirmar na Williams nesta temporada.

    "F-1 voltará a ser assunto nas segundas de manhã e Interlagos ferverá. Mas nem o entusiasmo nem a paciência nem o crédito serão os mesmos de antes", deu a coluna em agosto de 2005, quando ele foi confirmado pela Ferrari.

    Mas minha preferida é a de 30 de novembro de 2007. "Então, filha, é assim... Este aqui é o corredor que sai do seu quarto e vai pro resto do mundo."

    Julia, hoje à beira dos 7, nasceu uma semana antes, e a coluna virou quadro na parede do corredor.

    À Folha e a todos que me aturam por tanto tempo, um enorme obrigado.

    fseixasf1@gmail.com

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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