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    Fábio Seixas

    Cor de asfalto

    DE SÃO PAULO

    24/10/2014 02h00

    Eram simpáticas, aquelas nanicas dos anos 80 e 90.

    A lista é imensa: Shadow, Copersucar, Osella, Ligier, Minardi, Scuderia Italia, Arrows, Forti, Larrousse, Dallara, March, Coloni, RAM, Zakspeed, Rial, AGS, Spirit, Toleman, Lola, Theodore, ATS, Tyrrell, Fondmetal, Modena, Jordan, Eurobrun...

    Raras prosperaram. Algumas compraram outras e tentarem seguir adiante até definhar. A maioria sumiu num estalar de dedos.

    Poucas eram sérias, fundadas e mantidas por gente apaixonada por corrida, disposta a conseguir resultados. Algumas eram aventuras. Outras eram apenas lavagem de dinheiro.

    Desta turma, um caso clássico foi a Andrea Moda. O dono era um playboy italiano, fabricante de sapatos, que comprou a Coloni. A capa da brochura que apresentava o time para aquela temporada de 1992 estampava uma mulher nua e um saxofone (!?). A brincadeira acabou quando o tal dono foi preso em pleno GP da Bélgica, por fraudes fiscais.

    E a Lola? Apresentou um esquema mirabolante de financiamento por um clube de fãs ligados a uma bandeira de cartão de crédito. Apresentou os pilotos, levou os carros a Interlagos, mas eles nunca deixaram os boxes. Fechou sem percorrer 1 metro na F-1.

    Picaretagens à parte –e na turma de cima também as há–, enchiam o grid. Disputavam pré-classificação. Traziam um colorido para o pit lane. Serviam como porta de entrada para profissionais. Eram usadas como laboratório por fabricantes de motores e pneus. Recheavam as revistinhas distribuídas nos autódromos. Potencializavam o imponderável nas corridas.

    Mas os anos passaram, a F-1 foi ficando mais e mais profissional e, por consequência, mais cara. Os custos se transformaram num bloqueio para aventureiros, sonhadores, ladrões de galinha.

    Começou a era dos fundos de investimento. Gente estranha ao mundo das garagens passou a frequentar o paddock. O colorido deu lugar à assepsia. Hoje, o comprometimento com o esporte dura tanto quanto a paciência dos acionistas ou o surgimento de um investimento melhor.

    Em 2006, um desses fundos, Midland, comprou a Jordan. Durou um ano. A estrutura foi vendida para a Spyker. Durou dois anos. Em 2008, a Force India assumiu. Ainda vem durando.

    A próxima a desaparecer deve ser a Caterham. E entender o que acontece por lá é tarefa para analista financeiro. Aparentemente, o grupo que comprou a equipe em julho não levou. Ninguém pagou funcionários e fornecedores. O antigo dono diz que não é com ele.

    Ontem, uma intervenção judicial fechou as portas da fábrica. A equipe é dúvida para o GP dos EUA, o que a excluiria da divisão das receitas da F-1 e consequentemente a deixaria em péssimos lençóis para 2015.

    Ninguém sentirá falta. Mas o pior é que o grid perderá dois carros. Ficará menos colorido: onde havia verde, haverá cor de asfalto.

    Começo a enxergar com outros olhos a ideia de Ecclestone de três carros por equipe. O que parecia devaneio pode ser a salvação.

    fseixaf1@gmail.com

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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