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    Fábio Seixas

    O preço da arrogância

    31/10/2014 02h00

    São cerca de 45.500 as empresas listadas em bolsas de valores ao redor do mundo. Não existe um número oficial de companhias operando no planeta, mas cálculos feitos em cima de estimativas da ONU indicam aproximadamente 115 milhões.

    Dessas, apenas nove têm desejo e força para estar na F-1. Nove.

    Eram dez até a semana passada, quando escrevi sobre a Caterham e o iminente forfait no GP dos EUA. De lá para cá, outra nanica rodou. A Marussia também entrou em processo de falência. Não foi para Austin. Dificilmente alguma delas correrá em Interlagos e Abu Dhabi.

    Apenas 18 carros largarão neste final de semana, grid mais enxuto desde o GP de Mônaco de 2005, quando a BAR cumpriu punição.

    Foi circunstancial, porém. Em termos reais, a situação é bem mais feia. Em 65 temporadas de história, a F-1 poucas vezes teve tão pouca gente interessada em correr. Em raras ocasiões viveu tão pouca competição, esteve tão pouco exposta ao imponderável.

    Desde o final dos anos 60, quando ainda buscava se firmar, não é tão vazia.

    Mas não, não é mais o caso de lembrar dos anos dourados e lamentar a época atual. Já o fiz aqui há uma semana. É hora de tentar entender a doença e buscar remédios.

    Mulher pioneira na posição de chefe de equipe, Monisha Kaltenborn foi no ponto certo quando, às vésperas do GP da Áustria, falou sobre a crise que assola a categoria.

    Com a franqueza dos recém-chegados, disse que o egoísmo e a competitividade impediram que as equipes chegassem a um acordo sobre corte de custos para as próximas temporadas.

    É preciso entender o que acontece nos bastidores.

    Ainda em 2013, o Conselho Mundial da FIA indicou que o corte de custos seria uma das prioridades para os anos seguintes. O problema é que toda iniciativa nesse sentido é barrada pelo Grupo de Estratégia, formado pelas equipes e, hoje, com poder na administração do esporte.

    Quem vocês acham que manda no tal grupo? Marussia, Caterham e Force India? Não é bem o caso.

    "O Conselho determinou uma implantação de um teto de custos. Mas desde então houve uma série de decisões do outro grupo em sentido contrário", completou Monisha.

    Por quê? Porque a raiz do problema é mais antiga. É histórica. E é definida por uma palavra tão intrínseca à F-1 como "gasolina" e "pneus".

    Arrogância.

    Ferrari, McLaren e quem mais estiver na ponta sempre dificultaram a vida das pequenas.

    Por se acharem melhores. Por acreditarem que dominam um ambiente exclusivo e que deve continuar assim. Por não entenderem que grids fracos são prejudiciais para a F-1 e para seus próprios negócios.

    O problema é que, do alto de seus castelos, não viram o tempo passar.

    Ser arrogante, hoje, custa muito mais caro.

    fseixasf1@gmail.com

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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