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    Fábio Seixas

    Balança quebrada

    13/02/2015 02h00

    Newey é gênio, está no panteão dos grandes projetistas da história da F-1, é daqueles de quem sempre se pode esperar alguma surpresa.

    É o único da história campeão por três equipes diferentes. Nas últimas 23 temporadas, dez carros projetados pelo inglês levaram o título de Construtores. Se esta estatística não parece assombrosa, vale o lembrete de que o dream team da Ferrari dominou a categoria no início do século.

    Nos últimos anos teve papel crucial na construção da Red Bull, e sua competência é grande responsável pelo fato de Vettel permanentemente ter sua qualidade colocada em dúvida por torcedores e especialistas.

    Ama o esporte. Mas é ainda mais fascinado pelo desafio.

    Por isso já cogitou algumas vezes largar a F-1 e ir projetar barcos para a America's Cup. Parte desse sonho será realizado agora: vai deixar de lado algumas atividades na equipe e se dedicar a um projeto inglês para a mais badalada regata do planeta.

    Ótimo para ele, ótimo para o mundo náutico, péssimo para a F-1.

    Mas vale a reflexão: por quê?

    O que era desconfiança tornou-se certeza agora. Newey se diz extremamente frustrado com as atuais regras da categoria.

    Está no site da revista "Autosport": "A F-1 deveria ser um mix entre piloto, motor e chassi. Acontece que o atual regulamento pende muito para o lado dos motores e restringe o trabalho que pode ser feito na aerodinâmica. Assim, se uma fabricante de motor entrega um produto muito superior, fica difícil virar o jogo".

    É uma reflexão interessante.

    Anos atrás, a balança pendia para a aerodinâmica: os carros eram cheios de asas, aletas, difusores e demais penduricalhos. Aberrações eram frequentes. Na tentativa de consertar o equilíbrio, a FIA deixou os carros pelados e valorizou os motores. Virou o fio.

    O que Newey defende é justo, é esportivo.

    O motor é ruim? A equipe deveria poder superar isso com bons engenheiros e bons pilotos. O chassi não funciona? Um bom trabalho no motor e um piloto competente deveriam poder trazer esperanças para o time. Hoje isso não acontece.

    A boa notícia é que a categoria começa a se mexer. Está em curso uma discussão intensa sobre um pacote de mudanças para 2017.

    Na semana passada, um "grupo de estratégia" criado pelas equipes discutiu o aumento de potência para 1.000 hp, além de mudanças radicais na aerodinâmica. Na próxima quarta, as ideias serão submetidas à Comissão de F-1 da FIA.

    Atual chefe de Newey, Horner saiu do encontro otimista, dizendo acreditar que as mudanças seduzirão o projetista a continuar na categoria.

    Se ele o fizer, será um ótimo indicativo de que as coisas mudarão para melhor. Mas se sair...

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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