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    Fábio Seixas

    Rir pra não chorar

    12/06/2015 02h00

    Irônico. Trágico. Tragicômico. Com Alonso e a McLaren no centro do roteiro, e Montreal como cenário.

    A trama começa no GP do Canadá de 2007.

    Bicampeão do mundo, recém-chegado à equipe, sentindo-se dono do pedaço, Alonso pela primeira vez percebe que as coisas podem ser diferentes do que imaginava.

    Hamilton vence a corrida de Montreal, a primeira vitória de sua carreira.

    O espanhol acusa o golpe. Comete erros ao longo da corrida. Enfrenta problemas de freios. Termina apenas em sétimo. Vê o novato ultrapassá-lo na tabela e alcançar a liderança do Mundial. Enlouquece com a situação.

    É o primeiro capítulo de uma guerra das mais sujas da história do esporte. Um conflito que teve lances de espionagem, bate-boca público, acusações veladas, tapetes puxados e que, como último respingo, escancarou o envolvimento do presidente da FIA numa orgia neonazista que terminaria por derrubá-lo da entidade.

    Alonso saiu da equipe inglesa no final daquele ano, buscou outros rumos. Voltou oito anos depois, com Hamilton já longe dali.

    Corte rápido.

    GP do Canadá de 2015.

    Hamilton ostenta dois títulos. Como Alonso, que estancou. No grid, alinha seu carro na pole position pela 44ª vez na carreira –com mais uma, torna-se o terceiro melhor da história nesta estatística.

    Alonso coloca sua McLaren na 13ª posição –a mesma das duas corridas anteriores e seu melhor grid no ano.

    Setenta voltas depois, Hamilton comemora mais uma vitória na carreira, a 37ª. Com mais cinco, supera seu ídolo, Senna, e fica atrás apenas de Schumacher e Prost. Abre 17 pontos na liderança do Mundial e dá mais um sólido passo em direção ao tricampeonato.

    Alonso assiste a tudo dos boxes, depois de travar um diálogo profético com seu engenheiro nos estágios iniciais da prova.

    Corria a 24ª volta quando o pitwall pediu que ele economizasse combustível.

    "Não quero! Não quero!", disse o piloto. "Teremos grandes problemas lá na frente se você não fizer isso", argumentou o engenheiro. "Já temos grandes problemas agora. Pareço um amador na pista. Então vou me concentrar na corrida e depois me preocupo com a gasolina", retrucou o espanhol.

    Vinte voltas depois, Alonso encostava o carro, no seu quarto abandono em seis GPs –não correu na Austrália, ainda em consequência do estranho acidente na pré-temporada.

    Em vez das reações raivosas de outrora, porém, partiu pra pilhéria. Postou no Twitter uma foto da classificação da corrida, de cabeça pra baixo. Perguntou ao companheiro, Button, se as coisas pareciam melhores daquele jeito.

    Sintomático da situação desesperadora da McLaren. E do amadurecimento do espanhol.

    Se conhecesse Cartola, ele teria um clássico para cantarolar no fim do domingo.

    "Deixe-me ir/ preciso andar/ vou por aí a procurar/ rir pra não chorar"...

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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