• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 11:11:18 -03
    Fábio Seixas

    O exemplo de Toronto

    10/07/2015 11h04

    Escrevo esta coluna do Princes' Boulevard, em Toronto, em um pavilhão improvisado como centro de imprensa dos Jogos Pan-Americanos.

    Exatamente nesta avenida, há menos de um mês, o cenário era outro. Havia arquibancadas móveis. Havia caminhões estacionados. Havia motorhomes montados. Havia público, muito público. Havia cheiro de gasolina e de borracha queimada.

    No dia 14 de junho, o Princes' Boulevard era a reta de chegada do circuito de Toronto, décima etapa da temporada 2015 da Indy. Foi a 29ª edição da corrida no Exhibition Place, uma área próxima ao centro de Toronto utilizada como centro de exposições desde 1878.

    A primeira prova foi em 1986, com vitória de Rahal. Emerson venceu no ano seguinte. O vencedor em 88 foi Unser Jr. E por aí vai.

    Há 26 dias, o americano Newgarden venceu pela primeira vez no circuito, numa prova acidentada e agitada, que começou com pista molhada.

    Sou capaz de apostar que muitos estrangeiros que passarão por aqui nos próximos dias não terão a mínima ideia de que este local é, também, uma pista de corrida.

    Não dá para não pensar com o que fizeram com Jacarepaguá.

    Foi justamente um Pan-Americano, há oito anos, que começou a sepultar um dos melhores circuitos do planeta.

    Até hoje é difícil acreditar. A zona oeste do Rio, que compreende Barra, Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, é repleta de áreas vazias, matagais, terrenos baldios. Oito anos de ocupação imobiliária atrás, mais ainda.

    Mas não. Para realizar um evento esportivo, a então Prefeitura do Rio, comandada por Cesar Maia, concordou com o plano do COB de destruir... uma instalação esportiva!

    Deixaram um arremedo de circuito, um traçado perigoso, como que com a intenção de provocar uma tragédia e obter a justificativa perfeita para fechar tudo.

    Houve várias provas de categorias nacionais por lá, e felizmente ninguém morreu. Mas mesmo assim fecharam tudo, desta vez com a desculpa da organização dos Jogos Olímpicos.

    Ah, claro. A prefeitura do Rio, já com Eduardo Paes, manteve a promessa da gestão anterior da construção de um novo autódromo, em Deodoro.

    Não saiu do papel. Acredito que nunca vai sair. A burocracia é enorme, e a vontade política é mínima.

    Se o Rio de Janeiro tivesse alguma vontade de contar com um autódromo, não teria destruído Jacarepaguá. Teria dado um jeito. Toronto deu.

    E o que dizer de Sochi? No ano passado, o mesmo local da mesma cidade russa recebeu os Jogos Olímpicos de Inverno e um GP de F-1.

    De duas, uma.

    Ou somos incapazes, ou somos mal-intencionados.

    (Sou daqueles idiotas que acreditam que não somos menos capazes do que ninguém.)

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024