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    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    Inimigo íntimo

    02/10/2015 02h00

    Quando as coisas vão mal numa equipe –de trabalho, de futebol, de missão espacial, de F-1, de badminton–, há duas saídas.

    Na primeira, os integrantes se unem, se abraçam, fazem um pacto para sair do buraco.

    Pode até não dar certo, afinal sempre há circunstâncias externas, situações que fogem ao controle. Todos afundam juntos, e restam amizades para a vida toda. Mas muitas vezes, é a receita do sucesso. "A união faz a força" não é um clichê por acaso.

    A segunda saída é a receita do fracasso. As coisas começam a dar errado, os membros da equipe começam a se desentender, as conversas construtivas dão lugares a fofocas. Todos entram num círculo vicioso, a crise vira uma bola de neve. O fracasso é iminente.

    "Motor de GP2! Motor de GP2! Parece um motor de GP2! Vergonhoso. Isso é vergonhoso!"

    Os gritos de Alonso pelo rádio, em Suzuka, casa da Honda, deixam claro qual é o caminho tomado pela parceria McLaren-Honda após 14 GPs.

    Alonso tem 34 anos, faz a 15ª temporada na F-1, soma dois títulos e está prestes a se tornar o quinto piloto com mais GPs na história. Pode ser tudo, menos inocente. Não falou isso por impulso. Estava ciente de que suas queixas poderiam ir parar na transmissão da corrida.

    Imagine-se no lugar do diretor de marketing da Honda. Sua empresa investe milhões de dólares na volta à F-1, tem diante de si o desafio de alcançar adversárias que estão com um ano de desenvolvimento à frente, coloca seu prestígio em xeque... E então sua principal estrela diz para o mundo todo que seu produto é uma porcaria.

    A resposta da Honda foi imediata. Já na segunda-feira, Yasuhisa Arai, chefe da Honda na F-1, fez questão de dizer que a crise da McLaren não é só responsabilidade da montadora.

    "Também estamos sofrendo muito em termos de chassi", disse em Suzuka ao "El País".

    Vale o mesmo raciocínio usado para Alonso: um executivo com sua importância não diz essas coisas ao principal jornal da Espanha por acaso. É estratégia estudada em altos gabinetes.

    A aposta da McLaren nos japoneses foi alta, até pelo histórico recente dos japoneses na F-1.

    Em fevereiro, numa coluna chamada "Sol poente", após os primeiros resultados ruins nos testes, joguei uma dúvida no ar: "Será que o estilo e a filosofia da Honda, tão triunfantes em eras mais modestas, não se encaixam mais no ambiente da F-1?"

    Cabe aos ingleses, agora, encarar os fatos, aparar as arestas, lavar roupa suja. Respirar fundo e recomeçar.

    Esta temporada já está perdida.

    Se continuarem assim, desunidas, equipes diferentes dividindo um mesmo box, McLaren e Honda já começam a jogar 2016 também na lata do lixo.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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