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    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    As pilotos

    06/11/2015 02h00

    O comunicado chegou na manhã de quarta-feira (4), com o timbre de uma das mais renomadas equipes da F-1.

    O título já conta tudo: "Williams confirma que Susie Wolff se aposentará do esporte a motor".

    Em 20 linhas, a escuderia explica que "após quatro anos bem sucedidos" em Grove, ela pendurará o capacete ao final desta temporada. Traz frases da piloto agradecendo à equipe, dizendo que encerra um capítulo agora e que buscará novos desafios. E reproduz declarações da dirigente Claire Williams afirmando que "seu conhecimento do carro foi parte importante no desenvolvimento que o time experimenta agora".

    Não será Susie a primeira mulher a correr na F-1 neste século.

    E não há perspectivas a curto prazo.

    É melancólico o destino das mulheres que tentam correr na principal categoria do automobilismo. As pistas de F-1 continuam sendo um ambiente impenetrável para elas, algo raro no resto do planeta.

    A antecessora de Susie teve destino trágico. A espanhola María de Villota morreu em 2013 depois de um mal explicado acidente com o carro da Marussia numa pista de pouso na Inglaterra.

    A sucessora, a também espanhola Carmen Jordá, está lá mais pela beleza do que pela competência. Comentei corridas dela na GP3, em 2014, e posso afirmar: é ruim de braço, perigosa para os concorrentes. Na teoria, é "piloto de testes" da Renault. Na prática, é chamariz para as câmeras de TV nos fins de semana de GP.

    Já foram cinco as mulheres que disputaram a F-1. Mas alguns pilotos do grid nem tinham nascido quando a última tentou correr um GP: Giovanna Amati ficou na pré-classificação do GP Brasil de 1992.

    É muito tempo. E é uma pena que seja assim.

    É verdade que as mulheres hoje ocupam até mesmo funções de comando em equipes. Além de Claire, que dá as cartas na Williams, a indiana Monisha Kaltenborn é a CEO da Sauber.

    Há várias outras circulando pelo paddock, geralmente trabalhando nas áreas de marketing e comunicação dos times.

    Mas falta uma mulher na posição de honra. Falta uma mulher no cockpit. Falta uma mulher piloto, batendo roda com os barbados.

    Por que isso não acontece?

    Porque o automobilismo é um meio machista, desde o kart. Só isso. E tudo isso.

    Em pleno 2015, garotas que tentam dar os primeiros passos no esporte ainda são vistas com desconfiança. Ainda chamam mais atenção pelo exotismo do que pela habilidade. É inacreditável que isso ainda exista num meio tão cercado por holofotes.

    Bia Figueiredo, Danica Patrick e Simona de Silvestro são raras heroínas e merecem todo respeito. Correram na Indy, com louvor.

    Mas a F-1 ainda deve. Deve muito.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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