• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 20:30:24 -03
    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    Passagem de bastão

    20/11/2015 02h00

    Foram dois os personagens do insosso GP Brasil. Curiosamente, dois pilotos em momentos opostos da carreira.

    Na sexta e no sábado, Alonso deixou claro que não esquenta mais a cabeça com o desempenho da McLaren (?) e da Honda.

    Depois de mais um motor ir para o espaço, com apenas meia hora do segundo treino livre, o bicampeão sentou no guard rail e ali ficou, olhando para o vazio, talvez refletindo sobre a vida, sobre suas escolhas, sobre o lixo de temporada que viveu.

    No dia seguinte, partiu para a galhofa.

    O motor para o treino oficial durou só meia volta. Alonso deixou o carro, emprestou a cadeira de um fiscal, deu uma piscadinha marota para a câmera e passou alguns instantes de olhos fechados, cabelos ao vento, curtindo o sol que batia em Interlagos. Instantes depois, as redes sociais já estavam inundadas de memes.

    Não parou por aí. Assim que chegou aos boxes, ele puxou Button e os dois subiram ao pódio, para risada geral do autódromo, das arquibancadas à sala de imprensa.

    (Para quem não conhece Interlagos, um esclarecimento importante: os boxes da McLaren não estavam próximos do pódio. Eles precisaram desviar o caminho e subir uma escada para chegar lá. O deboche foi pensado, deliberado, intencional. E divertidíssimo.)

    Estaria Alonso em fim de carreira na F-1? Sim. O que é um enorme desperdício.

    O espanhol é dos pilotos mais talentosos das últimas décadas, mas foi atropelado pelas escolhas que fez, culpa de seu sangue quente. Hoje não parece ter mais ganas para ambicionar, brigar, conquistar. Jogou a toalha. Provavelmente deixará a F-1 com apenas dois títulos mundiais, quando merecia muito mais.

    No outro extremo da carreira, Verstappen deu um show no circuito paulistano. A ultrapassagem sobre Pérez, por fora, no S do Senna era o que faltava para coroar a temporada de estreia do mais promissor piloto do grid atual. Um cartão de visitas, um lance para a retrospectiva dos melhores momentos do ano.

    No paddock, os sorrisos adolescentes do holandês brilhavam em meio a um paddock já em fim de campeonato.

    Pudera. Em seu primeiro ano, Verstappen já marcou 49 pontos, mais do que o dobro do companheiro, Sainz, também estreante e filho de ex-piloto.

    Verstappen, aos 18, hoje lembra aquele Alonso de 23 que embasbacou o mundo ao segurar Schumacher e vencer o GP de San Marino de 2005.

    A certeza que tivemos naquele momento repete-se agora com o holandês.

    Mas lá se vão dez anos. Envelhecemos, assumimos outros interesses, adotamos novas prioridades. É do jogo.

    Mas fica a certeza de que a cota de talento de Alonso estará em ótimas mãos –e numa cabeça mais fria, ao que parece.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024