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    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    Doze segundos

    12/02/2016 02h00

    A atual polêmica da F-1 está durando bem mais do que 12 segundos.

    Começou quando o dinamarquês Marco Sorensen, 25, desabafou a um jornal de seu país sobre os motivos que o levaram a deixar o posto de piloto de testes da Lotus –agora Renault.

    "Ela era 12 segundos mais lenta do que eu no simulador. Ainda assim, era ela que ganhava todos os méritos. Chegou um ponto em que me senti insultado e decidi sair", disse.

    Ela é Carmen Jordá. Espanhola, 27 anos, desde o ano passado também piloto de testes da equipe franco-inglesa.

    Ou mais do que isso.

    Carmen é linda. Acumula trabalhos como modelo. É ela que surge na tela sempre que uma câmera focaliza os boxes de sua equipe.

    A frase de Sorensen foi tachada de sexista, de preconceituosa. Como quase tudo hoje, reverberou nas redes sociais, com opiniões radicais e definitivas apoiando um ou outro.

    Trata-se de uma eternidade em se tratando de F-1, afinal: 12 segundos.

    "É inacreditável que ele tenha dito isso. No ano passado, eu nunca o vi lá na equipe. E, no simulador, eu ficava menos de 1 segundo atrás dos outros pilotos", retrucou Carmen ao diário "Marca".

    É um tema sensível e que merece dois esclarecimentos.

    O primeiro: já há alguns anos, pilotos de testes na F-1 tornarem-se figuras decorativas –sejam homens ou mulheres. Carmen e Sorensen nunca fizeram um teste com um carro da Lotus. Nunca.

    Essa limitação dos testes, fruto do esforço da categoria para reduzir custos, já teve uma consequência trágica. Em 2012, outra piloto espanhola, María de Villota, com pouquíssima quilometragem no currículo, sofreu um acidente num teste com a Marussia, perdeu o olho direito e passou a sofrer com sequelas neurológicas. Um ano depois, morreu.

    O outro esclarecimento: Sorensen talvez tenha exagerado, mas não muito. Carmen não é boa piloto. É ruim de braço. Na GP3, foram 44 corridas e zero ponto. Sua melhor colocação foi um 13º lugar. Era uma constante retardatária.

    Não foi o desempenho nas pistas que a levou para a Lotus.

    Sabe a história da câmera nos boxes, que citei ali em cima? Pois é: a câmera provavelmente não iria até a Lotus se Carmen lá não estivesse. Foi essa a sacada da equipe e de seus patrocinadores.

    Cinco mulheres já disputaram GPs na F-1. A última foi Giovanna Amati, em 92. Faz tempo.

    Danica Patrick, infelizmente, decidiu ficar nos EUA. Mas há um monte de meninas boas em categorias de base que, em breve, poderão encerrar esse jejum.

    Vai ser bom, vai ser interessante, vai ser um tapa na cara de quem ainda acha que o automobilismo é território exclusivamente masculino.

    Mas não vai ser Carmen.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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