Montezemolo foi piloto amador na juventude, braço direito de Enzo Ferrari, chefe de equipe da escuderia e, por 23 anos, presidente da mais emblemática marca do esporte a motor.
Foi o artífice do time mais vitorioso da história da F-1.
Sob seu comando, homens como Schumacher, Todt, Brawn, Byrne e Barrichello levaram Maranello às alturas.
Foram seis Mundiais de Construtores e cinco de Pilotos ao longo de seis temporadas, de 1999 a 2004.
Deve entender um pouco de pilotos e de corridas, suponho.
Pois Montezemolo, hoje presidente da Alitalia, deu uma entrevista esclarecedora à próxima edição da "Auto, Motor und Sport".
Segundo ele, os últimos momentos de Alonso na Ferrari foram péssimos para o ambiente interno e determinantes para sua saída da escuderia.
"Percebi que ele estava convencido de que nunca seria campeão pela Ferrari. E isso foi um baque na motivação de todos."
"Vejam bem: tenho convicção de que ele é o melhor piloto do mundo. Talvez não seja o mais rápido em treinos de classificação, mas em corridas é inacreditável. Uma máquina."
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: o italiano fez questão de separar temperamento e talento. Ok, atitude elogiável, ressalva registrada.
Mas ocorre que o sujeito é um só. E aí as duas coisas se tornam a mesma coisa, o mesmo pacote, o mesmo piloto.
Ninguém duvida do talento de Alonso, que chamou a atenção da F-1 quando ele ainda estava na F-3000 –lembro de Spa boquiaberta quando ele venceu lá em 2000, já de contrato assinado com a Minardi.
Mas algo de errado acontece quando o melhor de todos inicia a décima temporada seguida sem um título.
Montezemolo pode ter matado a charada. O temperamento...
F-1 é um esporte de equipe. Ninguém nunca venceu um campeonato sem ter todo um pequeno exército trabalhando para si. Para isso, é preciso agregar. E o espanhol não tem essa habilidade –e talvez não queira ter.
Seu currículo de confusões é extenso. Certa vez, este colunista testemunhou o espanhol entrando no motorhome da Renault após abandonar em Mônaco. Chutou cadeiras, mesas, paredes, portas.
Antigamente, explosões assim poderiam surtir efeitos positivos nas equipes de trabalho. Hoje, acontece justamente o oposto, estão aí os experts em gestão que não me deixam mentir.
Isso para não falar do que aconteceu na primeira passagem de Alonso pela McLaren...
A história da F-1 cristalizou Moss, vice-campeão em 55, 56, 57 e 58, como o piloto mais talentoso a não ter conquistado um título mundial.
Alonso caminha para se tornar um dos maiores desperdícios de talento de todos os tempos.
Sobra talento, mas falta cabeça.
É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.