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    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    Máquina com defeito

    19/02/2016 02h00

    Montezemolo foi piloto amador na juventude, braço direito de Enzo Ferrari, chefe de equipe da escuderia e, por 23 anos, presidente da mais emblemática marca do esporte a motor.

    Foi o artífice do time mais vitorioso da história da F-1.

    Sob seu comando, homens como Schumacher, Todt, Brawn, Byrne e Barrichello levaram Maranello às alturas.

    Foram seis Mundiais de Construtores e cinco de Pilotos ao longo de seis temporadas, de 1999 a 2004.

    Deve entender um pouco de pilotos e de corridas, suponho.

    Pois Montezemolo, hoje presidente da Alitalia, deu uma entrevista esclarecedora à próxima edição da "Auto, Motor und Sport".

    Segundo ele, os últimos momentos de Alonso na Ferrari foram péssimos para o ambiente interno e determinantes para sua saída da escuderia.

    "Percebi que ele estava convencido de que nunca seria campeão pela Ferrari. E isso foi um baque na motivação de todos."

    "Vejam bem: tenho convicção de que ele é o melhor piloto do mundo. Talvez não seja o mais rápido em treinos de classificação, mas em corridas é inacreditável. Uma máquina."

    Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: o italiano fez questão de separar temperamento e talento. Ok, atitude elogiável, ressalva registrada.

    Mas ocorre que o sujeito é um só. E aí as duas coisas se tornam a mesma coisa, o mesmo pacote, o mesmo piloto.

    Ninguém duvida do talento de Alonso, que chamou a atenção da F-1 quando ele ainda estava na F-3000 –lembro de Spa boquiaberta quando ele venceu lá em 2000, já de contrato assinado com a Minardi.

    Mas algo de errado acontece quando o melhor de todos inicia a décima temporada seguida sem um título.

    Montezemolo pode ter matado a charada. O temperamento...

    F-1 é um esporte de equipe. Ninguém nunca venceu um campeonato sem ter todo um pequeno exército trabalhando para si. Para isso, é preciso agregar. E o espanhol não tem essa habilidade –e talvez não queira ter.

    Seu currículo de confusões é extenso. Certa vez, este colunista testemunhou o espanhol entrando no motorhome da Renault após abandonar em Mônaco. Chutou cadeiras, mesas, paredes, portas.

    Antigamente, explosões assim poderiam surtir efeitos positivos nas equipes de trabalho. Hoje, acontece justamente o oposto, estão aí os experts em gestão que não me deixam mentir.

    Isso para não falar do que aconteceu na primeira passagem de Alonso pela McLaren...

    A história da F-1 cristalizou Moss, vice-campeão em 55, 56, 57 e 58, como o piloto mais talentoso a não ter conquistado um título mundial.

    Alonso caminha para se tornar um dos maiores desperdícios de talento de todos os tempos.

    Sobra talento, mas falta cabeça.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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