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    Fábio Seixas - Fábio Seixas de Barros Silva

    Para Einstein

    04/03/2016 02h00

    O americano Gene Haas, 63, tem diplomas em engenharia, finanças e contabilidade. Começou a fazer dinheiro como sócio de uma oficina de usinagem de peças.

    Em meados dos anos 80, criou uma engenhosa programação que facilitou a fabricação de ferramentas em tornos com comando numérico computadorizado. Patenteou a invenção, abriu a própria empresa e fez fortuna a partir daí.

    A Haas Automation hoje é a maior fabricante de ferramentas dos EUA.

    Não deve ser uma besta.

    Fanático por corridas, decidiu brincar de Nascar em 2002. Comprou uma equipe. Em 2009, a Haas começou a ganhar corridas. Em 2011, levou o campeonato. Em 2014, tornou-se um dos quatro únicos donos de equipe da história a acumular vitórias nas três principais categorias da Nascar.

    Deve entender de corridas.

    Pois Haas resolveu brincar de F-1. Comprou a antiga sede da Marussia, na Inglaterra, ampliou a sua base, nos EUA, contratou a Dallara para fabricar o chassi e acertou com a Ferrari a compra de motores. Atraiu pilotos ao mesmo tempo experientes e promissores: Romain Grosjean e Esteban Gutiérrez. Trouxe um engenheiro com rodagem, Gunther Steiner, ex-Jaguar e Red Bull. E colocou tudo isso para testar em Barcelona.

    E então caiu a ficha.

    "A complexidade desses carros e desses motores e o que estamos fazendo com eles vai muito além do que eu imaginava. O lado técnico é fascinante, especialmente para os engenheiros que desenham e trabalham aqui. Colocar esses carros na pista é um desafio real."

    "Mas, ao mesmo tempo em que há esse desafio, não acho que os torcedores entendam toda essa complexidade. Nem eu entendo. Eu confesso que estava sendo ingênuo sobre o funcionamento desses carros. É um processo muito complexo. É um carro complexo, é uma maneira complexa de colocar carros na pista. É muita informação para digerir."

    Essas declarações vieram no fim da tarde de quarta, após seis dias de experiência na F-1.

    Provavelmente, grande parte do paddock encarou suas observações como jequices de um neófito na categoria. A F-1 é assim arrogante.

    Mais interessante é resgatar a história de vida de Haas e traçar um paralelo com o público que está em casa, assistindo pela TV.

    Se um homem com sua experiência, com sua cabeça de engenheiro, com sua vivência em autódromo não entende a complexidade da F-1, imagine para quem está começando agora a acompanhar a categoria. Desistência é a saída mais fácil.

    Anos atrás, a FIA criou um Grupo Técnico de Trabalho, formado por engenheiros, para tentar tornar as corridas mais atrativas. Está na cara que deu errado.

    "No meio da confusão, encontre a simplicidade."

    A frase é de Einstein.

    Será que ele entenderia a F-1 atual?

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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