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    Fábio Seixas

    Acabou

    17/06/2016 02h00

    Na sexta passada, escrevi sobre a maior seca de vitórias do Brasil na F-1: quase 7 anos. "O jejum é recorde, mas está só começando", concluía.

    Na segunda-feira, a edição da Folha que chegou à porta de casa não trouxe nenhuma linha sobre o GP do Canadá, que colocou Hamilton às margens da liderança do campeonato.

    Naquela noite, recebi a notícia de que esta coluna chegou ao fim.

    Esta é mais uma despedida.

    A primeira foi em abril do ano passado quando, após 22 anos, a coluna deixou de sair no papel. Quatorze meses e 58 textos depois, não interessa também ao online.

    Não são coincidências. E, por mais que seja doloroso escrever isso, são decisões compreensíveis.

    Cobrir (direito) F-1 custa caro. São viagens, diárias, horas extras. Há uma semana, lembrei que éramos 11 os jornalistas brasileiros em Hockenheim-2000, na primeira vitória de Barrichello. Eram mais de 20 na era Senna. Hoje, pelos meus cálculos, apenas 4 seguem viajando.

    Além disso, o acesso à informação é cada vez mais fácil. Pai de todos nós, pioneiro da cobertura da F-1 no Brasil, Reginaldo Leme conta das filas que tinha de enfrentar diante de máquinas de telex para mandar para cá seus relatos dos GPs. Hoje dá para cobrir qualquer esporte apenas recorrendo à internet. Não é o ideal, mas tornou-se conveniente para as empresas. Prescinde-se do olhar do repórter em nome da economia de custos.

    E tem o fundamental: a cultura de cobertura esportiva no país reza que acompanhamos futebol, futebol, futebol e, de vez em quando, uma ou outra modalidade em que um brasileiro se destaque.

    Pena que seja assim. Basquete, vôlei, tênis e ginástica também já ocuparam esta função de acompanhamento do prato principal, a reboque de ídolos esporádicos.

    Diante dessa mentalidade, chega a ser surpreendente que a F-1 ainda respire por essas bandas. Tem a ver com o fato de ainda estar na TV aberta e tem o dedo de abnegados das "novas mídias" que mantêm vivos espaços para noticiar e discutir a categoria.

    Assim é. E compreender o cenário não significa concordar com ele.

    Nesses anos escrevendo sobre automobilismo, descobri a legião de fãs que lotam autódromos Brasil afora, que acessam sites e blogs especializados, que têm interesse no esporte pelo esporte.

    Sim, há muita gente que gosta de disputas roda com roda, que se fascina pelos aspectos tecnológicos, que curte cheiro de gasolina, que ama ou odeia aquele piloto. Tudo isso, independentemente da categoria ou de haver um brasileiro brilhando.

    Espero que minhas mais de 600 colunas lhes tenham sido úteis. Do meu lado, garanto que foi um enorme prazer escrever cada uma.

    A gente se vê por aí.

    fábio seixas

    Escreveu até junho de 2016

    É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.

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