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    Fabrício Corsaletti

    Besteirada

    23/08/2015 02h00

    Ilustração Guazelli

    Cena

    De uma série cômica de TV que vi há alguns dias e não quero esquecer:
    O mafioso entra no gabinete de um ricaço pra cobrar uma dívida e este começa a se desculpar: os negócios não vão bem e, pra piorar, acabou de ser diagnosticado com um câncer. Como se não bastasse, a esposa fugiu com o analista, o filho virou muçulmano e a filha de 15 anos, deficiente mental, está grávida. O mafioso arregala os olhos, indignado, e diz:
    — Você só pode estar me confundindo com alguém que se importa.

    Poeta

    — Picanha é o soneto das carnes. Coração de galinha é haicai.

    Prosador

    — Meu pesto é melhor que meu texto.

    Educação

    — Pai, quem fez o calendário? - pergunta o menino, fascinado com a aparente arbitrariedade do sistema de 365 dias divididos em 12 meses (um deles com 28 dias!) cujos nomes parecem senhas de acesso a mundos misteriosos.
    Mas o pai responde:
    — A gráfica.

    Homerinho

    Às dez da noite, entra com duas amigas num táxi em Copacabana, destino Lapa, e pergunta pro motorista, com sua voz grave e num português ironicamente culto:
    — Pode-se fumar no seu carro?
    O homem pondera:
    — A essa hora pode.
    Ele saca um baseado do bolso
    da camisa:
    — Então vai pela praia.

    Rotary

    — Sua mulher é canadense?
    — Não. É que ela sofreu um derrame no ano passado.

    Outro

    Aos sábados, numa feijoada da Vila Madalena, ele toca cavaquinho com o grupo Alegres Chorões. Da última vez, no intervalo, uma das garçonetes se aproximou:
    — Vocês tocam a mesma música durante quatro horas?
    Ele explicou que não. De jeito nenhum. Sério que ela achava que era a mesma música? Eles executavam pelo menos trinta choros por apresentação. Ainda pasmo, mas já vendo despontar dentro de si a curiosidade do professor de cavaco, violão e guitarra que ele também era nos dias de semana, perguntou que tipo de música ela ouvia. Rap e funk. Mas gostava mesmo de funk.
    — E você acha que, ao contrário do chorinho, um funk é muito diferente do outro?
    — Completamente! —disse a moça, arregalando os olhos e rindo, constrangida, diante daquela pergunta absurda.

    Voz

    Há poetas que levam trinta, quarenta anos até encontrar uma voz. Há também os que morrem antes disso. Se vivessem mais algumas décadas, fatalmente escreveriam bons poemas. Mas levam uma vida de merda e acabam batendo as botas cedo demais.

    fabrício corsaletti

    Nascido em Santo Anastácio (SP), em 1978, é autor de 'Esquimó' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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