Ando de moto em São Paulo há mais de duas décadas e não tenho nada contra bicicletas. Gosto e tenho uma.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tenta amenizar o problema da mobilidade coalhando a capital paulista de ciclovias. Recém pintadas de "vermelho PT" já estão meio desbotadas.
Tentei ir de casa para o trabalho de bike. Perdizes-Campos Elísios. Ladeiras, interrupções incompreensíveis, má sinalização e sujeira.
É válido que Haddad compre essa briga. Bicicletas devem ser incorporadas ao transporte individual e à paisagem urbana. Efeito colateral positivo, humanizarão mais São Paulo.
A maior cidade do Brasil tem 6,5 milhões de carros, ônibus e caminhões. É evidente que não cabem mais veículos desse porte aqui. A alternativa da bicicleta parece lógica.
Mas São Paulo é imensa até para fãs de esteroides. Será viável transformar as bikes em meio de transporte corriqueiro, diário, para milhares de pessoas se locomoverem? O tempo vai dizer.
Nessa correria pró-bicicletas, sem mais nem menos Haddad eliminou faixas exclusivas de motos para dar lugar a algumas ciclovias em avenidas de grande circulação. Faz sentido?
Há 1 milhão de motoqueiros em São Paulo, dos quais cerca de 1/4 são os "famigerados" e indispensáveis motoboys, que estão chiando.
Na última década, cresceu em mais de 120% o total de motos na cidade. Trata-se de um veículo barato, pouco poluente e eficiente.
Esse crescimento, creio, se dá por desespero com o trânsito. Uma vez feito o "set-up" cerebral de quanto se gasta em deslocamentos tendo a moto no cálculo, não há mais alternativa.
Algumas vias paulistanas passaram a ter "bolsões" nos faróis que dão a vantagem da saída para as motos. Isso facilita a vida. Mas é pouco.
Agora vem Haddad eliminar motofaixas em vez de, assim como faz com as bikes, pensar em políticas de circulação e segurança para o segmento que realmente tem uma demanda explosiva.
O prefeito já fez proselitismo em faixas de ônibus e bicicletas. Está convidado a andar de moto. Empresto a minha. Sem marchas, dificilmente passa dos 60 km/h.
Mas cuidado. As faixas exclusivas sumiram.
É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.