Há razões de todo tipo para explicar Dilma Rousseff correndo o risco de não passar pelo "quebra mola" da reeleição e ficar sem um segundo mandato, fato raro na política.
Entre as relevantes estariam sua incapacidade de comunicação combinada a um semblante de mau humor e antipatia. Isso não é pouco em uma era midiática.
Outra seriam as manifestações de junho.13. Nada de relevante foi entregue aos milhões que foram às ruas, que agora estariam desaguando seu descontentamento em Dilma e apoiando Marina Silva.
Mas o que dá as cartas mesmo é a percepção que temos de nossas vidas, se estamos melhorando ou piorando.
O gráfico abaixo mostra uma estagnação sob Dilma, justamente depois da forte curva ascendente durante os dois governos do presidente Lula.
Estávamos acostumados a um período relativamente longo de melhora, que terminou.
Mario Kanno/Editoria de Arte | ||
Os números são uma combinação da evolução do PIB per capita do país e do Coeficiente de Gini, medida clássica para calcular a desigualdade na distribuição de renda.
Tomando o primeiro ano do governo FHC como base, esse índice disparou nos anos Lula, coincidindo com um crescimento econômico médio de 4% ao ano no período.
Mais crédito e espaço no orçamento familiar para dívidas e cenário internacional favorável foram as bases para a melhora rápida. Com Dilma, isso parou.
Não é só fantasia de horário eleitoral as obras e realizações que Dilma tem mostrado na televisão. Embora atrasadas e exageradas, elas existem.
Mas para que a curva ascendente dos anos Lula continuasse em seu governo, o Brasil deveria ter entrado em um ritmo de crescimento muito mais acelerado. Bem acima da média inferior a 2% ao ano que ela vai deixar.
Nesse fundamental, Dilma falhou.
A percepção negativa recorde do empresariado a seu respeito tem tudo a ver com isso.
É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.