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    Fernando Canzian

    PT, PSDB e estelionato eleitoral

    16/10/2014 11h30

    Enganar eleitores dá votos, é comum e amplamente aceito no Brasil.

    Muitas das mentiras não têm maiores consequências. Como se manifestar contra o aborto ou rezar de joelhos perante fiéis/eleitores de alguma igreja evangélica. Ou prometer algo que não se pode cumprir. Normal por aqui.

    Mas há mentiras e omissões com enormes consequências. Na economia, o estelionato eleitoral é grave. Pode comprometer o futuro de uma família ou de meia geração. E, aí sim, a presença ou não de comida sobre a mesa.

    Dilma Rousseff engana quando diz que está tudo em ordem na economia. E quando afirma que o Brasil não cresce nada é culpa do mundo em crise. Nenhuma palavra sobre o desarranjo geral nos subterrâneos (leia coluna anterior ).

    Ou quando atribui ao governo FHC (1994-2002) o fato de Lula ter herdado, em 2003, um país em crise. A culpa foi de Lula, que sempre prometeu rupturas se eleito.

    Quando tudo começou a derreter durante a campanha de 2002, o petista engoliu a língua com a moderada "Carta aos brasileiros". Eleito, manteve sua equipe econômica enfurnada por mais de um ano no FMI (com o sanitarista Antonio Palocci à frente) até colocar o país de volta aos eixos.

    Agora Dilma vem batendo sem dó na escolha que Aécio Neves já fez, caso eleito, para o Ministério da Fazenda: o investidor Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no segundo mandato de FHC (1999-2002).

    A petista acusa Armínio de ter elevado os juros no Brasil para 45% ao ano (11% hoje) em março de 1999 e de o país ter chegado ao final daquele ano com um PIB de 0,3% (igual ao que o FMI projeta para Dilma neste ano) e inflação de 9%. Tudo verdade.

    Como isso é colocado, porém, é mais uma enganação. Ironicamente, produto de outra enganação. FHC 1 (1994-1998) foi o responsável por isso. Com o que ao final de seu primeiro mandato convencionou-se chamar de "populismo cambial".

    O engenhoso Plano Real manteve a paridade real-dólar no país semifixa, barateando importações que forçaram os preços domésticos para baixo. Logo de saída, funcionou. Mas, com o tempo, FHC teve de manter os juros no Brasil entre 20% e mais de 40% ao ano para atrair dólares de fora e sustentar a paridade.

    Quem tinha dinheiro nunca ganhou tanto sem fazer nada. A dívida pública explodiu e, em 1998, quando FHC tentava se reeleger, já era evidente que o real teria de ser desvalorizado. O país estava todo desarranjado, mais que agora. Mas isso foi adiado na campanha.

    Vencida a reeleição, o Brasil quebrou. FHC teve de recorrer a um empréstimo de US$ 41 bilhões do FMI e de outros organismos internacionais. Treze dias depois de sua segunda posse começaria o processo que desvalorizou o real frente o dólar e fez explodir as expectativas de inflação. E toda a crise que marcou 1999 e os anos seguintes.

    Taxa de desemprego no último ano de FHC: 12,6%. Mais que o dobro da atual. Com severas consequências, não há monopólio desse tipo de coisa no Brasil.

    *

    Manchete da Folha desta quarta-feira (15): "Falta de água já afeta todas as regiões da cidade de SP".

    "Antes circunscritos a determinadas áreas, em períodos específicos, os casos de falta de água se espalharam por São Paulo nos últimos dias, atingindo todas as regiões da cidade por intervalos que variam entre algumas horas e vários dias".

    Isso dez dias depois de Geraldo Alckmin (PSDB) se reeleger no primeiro turno.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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