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    Fernando Canzian

    O que Dilma dirá?

    08/12/2014 09h44

    Em discurso defensivo e improvisado na semana passada, Dilma Rousseff cobrou respeito ao "resultado das urnas" e às "escolhas legítimas da população". Em alguns dias, a presidente fará o discurso inaugural de seu segundo mandato. O que terá a dizer?

    Ao assumir em 2011, Dilma prometeu "erradicar a miséria", "garantir a estabilidade de preços", "eliminar travas que inibem o dinamismo da economia" e "simplificar o sistema tributário". Não fez nada disso e usou seu capital eleitoral e o país como laboratório para experimentos econômicos que não deram certo. Chegamos aos melancólicos resultados deste final de ano.

    A desculpa do fraco crescimento global (3,3% neste ano; 5,4% em 2010) não justifica o tamanho do tombo. O desemprego cedeu de 6,7% no último ano de Lula para 4,7% hoje. Mas o saldo entre admissões e demissões em vagas formais cai rapidamente agora e foi negativo em outubro. É esperar o que vem por aí.

    Perdida, a presidente reconhece os erros e, sem maiores explicações, joga a toalha ao trocar radicalmente a orientação econômica. Os juros sobem e voltarão a concentrar renda, o "dinamismo da economia" tardará ainda mais e ensaia-se novos aumentos de impostos. Sofreremos mais algum tempo para voltar ao passado.

    Desde a redemocratização e até Dilma, aos trancos, evoluíamos. Até chegar nas condições promissoras ao final do segundo mandato de Lula, desarranjadas por ideias e medidas que muitos julgavam ser coisa do passado. Agora, partimos desalentados para uma nova quadra sob Dilma sem um projeto claro de futuro.

    Após uma campanha feia e suspeita de ter sido em parte financiada por dinheiro de corrupção, Dilma tem razão ao defender o "resultado das urnas" e as "escolhas legítimas da população".

    Mas a presidente precisa agora deixar claro, após o retrocesso dos últimos anos, o que exatamente a população escolheu "legitimamente".

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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