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    Fernando Canzian

    Dilma: para-raio de desgraças

    27/03/2015 11h29

    Olhando pelo retrovisor de 2014, a economia entra em 2015 com péssima combinação para Dilma Rousseff. Não custa lembrar, já a pior presidente avaliada em um início de mandato, acuada por manifestações de rua, por um Congresso hostil, um escândalo de corrupção gigante e pela ameaça de impeachment.

    O Brasil pobre (67% das famílias ganham até R$ 2.710/mês) manteve o PIB (Produto Interno Bruto) acima da linha d'água no ano passado. O consumo das famílias, que responde por cerca de 60% do PIB, cresceu 0,9% em 2014. Significa que o PIB só não caiu porque os brasileiros continuaram gastando.

    O número que realmente importa no caso de um país com tudo a ser feito, a taxa de investimentos na produção e na infraestrutura, foi negativa. Caiu 4,4% no ano passado. Não há perspectiva de melhora disso no curto prazo, já que empresários e governo pisarão no freio neste 2015.

    Restaria mais uma vez para o consumo segurar a onda do PIB neste ano. Só que não. Inflação e juros em alta e restrição ao crédito, além do temor do desemprego, devem diminuir rapidamente ou travar os gastos das famílias. Vai sobrar para Dilma.

    As notícias sobre a corrupção e o estelionato eleitoral de 2014 explicam em parte a avaliação negativa que a presidente obtém entre os brasileiros: 62% a veem como ruim/péssima. O bolso está pegando, e o incômodo só começou.

    A renda do trabalho caiu 0,5% em fevereiro (sobre fev.2014) e o desemprego subiu para 5,9%, num salto acima das expectativas. Outro indicador do IBGE, a massa de rendimentos de todos os trabalhadores (tudo o que eles ganham), está perto da estagnação neste momento, interrompendo altas importantes nos últimos anos.

    Se as manifestações do dia 15 de março levaram às ruas os mais ricos e escolarizados, é dos brasileiros pobres em processo de perda de renda e empregos que depende o PIB. Em termos proporcionais, esses mesmos pobres é que votaram mais em Dilma.

    Será difícil não identificar na presidente um para-raio de suas desgraças.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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