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    Fernando Canzian

    Tragédia silenciosa

    11/06/2015 11h33

    Em meio à estridência de péssimas notícias no emprego, inflação e cortes bilionários do ajuste fiscal, vai passando meio batido uma das maiores tragédias vividas pela economia brasileira nos últimos anos. Em grande parte provocada pela falta de honestidade do governo Dilma 1 em relação à realidade.

    A indústria brasileira está minguando. Com ela, perde-se toda a capacidade de inovação, potencial de crescimento sustentável e os melhores empregos. Enquanto o setor não se recuperar, dificilmente o Brasil sairá do buraco em que se meteu. E ela segue ladeira abaixo.

    Há 20 anos, a indústria de transformação (mais sofisticada, como a automobilística) representava quase 20% da formação do PIB. Hoje, mal passa de 10%. E se iguala em peso a áreas menos sofisticadas do setor, como construção e extrativa mineral, que pouco agregam em conteúdo tecnológico.

    O massacre se acentuou com Dilma, a partir de 2010, e com sua política de segurar a inflação mantendo o dólar baixo. Os brasileiros não deixaram de consumir produtos industrializados. Mas passaram a criar empregos fora do país ao comprar bens importados baratos. A própria indústria local chega a ter entre 25% e 35% de componentes importados em seus produtos pela vantagem cambial.

    Além de segurar artificialmente o câmbio, Dilma 1 conseguiu desorganizar dezenas de setores ao conceder incentivos pontuais a seus "eleitos". Com políticas esquizofrênicas, desonerou a folha de pagamento do setor a partir de 2012 e agora quer o fim do benefício.

    A Fiesp estima em 290 mil demissões o impacto da medida, sem considerar a atual queda no consumo das famílias. Nos setores mais sofisticados, são necessários quase cinco anos para formar um bom profissional, que chega a ganhar R$ 5.000 por mês.

    O setor industrial representa 36% da arrecadação de impostos. Cerca de 25% dos trabalhadores do país (maior proporção) que ganham mais de R$ 4.000 trabalham para a indústria. Ela tem a maior taxa de formalização no emprego, de 75%, com 21,5 milhões de operários (o segundo maior contingente de trabalho).

    Em abril, a indústria brasileira encolheu 7,6% em relação a abril de 2014. A produção caiu em 12 dos 14 Estados onde é significativa. Em São Paulo (30% do total), a queda foi de absurdos 11,3%. A automobilística encolheu bem mais, 23%. Máquinas e equipamentos, que garantem crescimento sustentável, -12%. Entre os únicos setores em alta, produtos em madeira e indústria extrativa, de baixíssima tecnologia.

    Este é o caminho que estamos seguindo. Voltando a ser um país desindustrializado, de baixa competitividade e com padrão tecnológico cada vez menor.

    Editoria de Arte/Folhapress
    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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