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    Fernando Canzian

    Manifestações do Brasil

    17/12/2015 02h00

    As manifestações desta semana em São Paulo pró e contra o impeachment revelam muito sobre o Brasil.

    O país atravessa um de seus momentos mais delicados. A quase depressão econômica deste ano mostra o quanto ainda podemos perder.

    Na quarta (16) foi embora outro selo de "bom pagador", da agência Fitch. Em breve pode sair Joaquim Levy (Fazenda). Mais uma autodesmoralização de Dilma: Levy foi chamado para fazer o que a presidente resiste que seja feito.

    A manifestação desta quarta foi organizada por movimentos sociais e sindicatos ligados ao PT. Levou 55 mil pessoas à Paulista, segundo o Datafolha. Havia duas outras pautas: a saída de Eduardo Cunha do comando da Câmara e o fim do ajuste fiscal.

    Os manifestantes exigem uma guinada do governo à esquerda, com mais gastos sociais. Não ponderam que as contas arrumadas até 2013 ajudaram a produzir a histórica distribuição de renda patrocinada pelo PT na última década, com mais emprego formal.

    Em 13 anos de PT, os gastos sociais saltaram do equivalente a 6,5% do PIB para 9,3%. Foi o gasto não financeiro que mais aumentou. Hoje, sem o crescimento da economia, ficaram insustentáveis. A volta do equilíbrio é urgente.

    Os manifestantes defenderam ainda o socialismo e um "pacto do governo com o povo" para "inverter" o ajuste fiscal. A recessão atual seria produto desse ajuste que, na realidade, nem foi feito. A incoerência é grande.

    Um detalhe: no entorno da Paulista havia vários ônibus que transportaram os manifestantes com suas camisetas e bandeiras.

    Neste ano, sindicatos e centrais receberam mais de R$ 3 bilhões do imposto sindical, quantia obrigatória que sai de um dia de trabalho por ano dos assalariados (sindicalizados ou não). Em 2008, Lula autorizou esse repasse também às centrais. A CUT já embolsou mais de R$ 55 milhões em 2015, segundo a ONG Contas Abertas.

    Já a manifestação de domingo (13), pró impeachment, foi a menor (40,3 mil, segundo o Datafolha ) e a mais desesperada das quatro na avenida Paulista em 2015. Em março, os anti Dilma levaram cinco vezes mais gente.

    Sem tanta mobilização, o Movimento Brasil Livre comandou, do alto de seu caminhão de som em frente ao Masp, um evento grosseiro em vários momentos. Com xingamentos feios ao prefeito Fernando Haddad e a jornalistas citados nominalmente.

    Um dos principais motes do evento foi "Papai Noel, salva o meu Natal". Os discursos e a reação do público foram muitas vezes rasos e, mais uma vez, grosseiros. Em tese, era a classe média alta informada que estava ali.

    Um animador do movimento chegou a reclamar do fato de Haddad ter "colocado a PM" (comandada por Geraldo Alckmin, pró impeachment) em frente ao vão do Masp para impedir os manifestantes de se protegerem numa eventual chuva.

    Em outro carro de som, de representantes da maçonaria, se alegava que a eleição de 2014 foi fraudada. A não existência do voto impresso seria prova disso.

    É possível que 21 anos de regime militar tenham impedido muita gente de se envolver mais com a política no Brasil. A impunidade que se seguiu em relação a políticos corruptos e seus corruptores talvez tenha acentuado esse desinteresse, a falta de informação e os discursos mal-ajambrados.

    As fortes críticas dos dois lados à mídia "golpista" e "petralha" talvez sejam um grande sintoma disso.

    *

    A Folha publicou no último domingo (13) um especial sobre os 13 anos do PT na Presidência. Para quem não viu, vale a pena dar uma olhada: http://temas.folha.uol.com.br/pt-13/especial-pt-13/

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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