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    Fernando Canzian

    Lula enterra ainda mais a sua biografia

    04/03/2016 17h10

    Em sua defesa nesta sexta (4), o ex-presidente Lula cavou um pouco mais o buraco onde vai sendo enterrada sua biografia.

    O ex-presidente afirma que os avanços sociais no país levaram as "elites" a persegui-lo, assim como à caça ao PT.

    O trabalho e o recolhimento de provas na Lava Jato e no Ministério Público seriam, em última análise, destinados a interromper o processo de melhora de vida dos mais pobres. Isso seria contrário ao desejo das elites.

    Em 13 anos de poder, o PT promoveu a maior distribuição de renda da história brasileira. A renda dos 10% mais pobres aumentou, em termos reais (acima da inflação), cerca de 130% no período. A dos 10% mais ricos, 30%. Todos ganharam.

    Ao final de seu governo, entregue com uma taxa de crescimento de 7,5%, a maior em 25 anos, Lula foi coroado como o presidente mais popular da história. Era apoiado pela grande maioria da população (83%), elogiado por empresários e reconhecido amplamente no exterior.

    Além de distribuir renda, Lula conseguiu dobrar a taxa de crescimento do PIB em relação a FHC. Fez o Brasil acumular bilhões de dólares em reservas e ampliou como nunca o mercado consumidor, com mais acesso a bens e serviços.

    No Nordeste, garantidor das últimas vitórias do PT, o ex-presidente virou rei. E a "mulher de Lula", a "Vilma", foi a escolha natural para a sua sucessão. Lula chegaria assim a presidente "tribom", com disse nesta sexta. Eleito, reeleito e fazedor de sucessor.

    Dilma depois arruinou a economia e pôs os pobres no caminho de volta. É jogo jogado. Ela foi eleita democraticamente e tinha o direito de governar como julgasse necessário. Se mentiu e o povo engoliu na conquista de um segundo mandato, problema do país. Donald Trump também está ai.

    Ao mesmo tempo que tenta dividir o país entre "nós" e "eles", Lula demonstra todo o seu isolamento ao voltar a se abraçar em Dilma. O naufrágio econômico também seria culpa das mesmas investigações contra ele, que teriam paralisado o governo.

    Apesar dos prováveis imprevistos, a Lava Jato e a atual recessão parecem ter definido a sua dinâmica. O grau de degradação na ação e discurso de seus envolvidos passa agora à grande incógnita.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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