• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 00:41:57 -03
    Fernando Canzian

    Temer come o almoço de Dilma

    09/06/2016 09h11

    O ex-presidente Lula reclamou de Michel Temer nesta semana no Rio ao dizer que o interino "cortou até o almoço" de Dilma Rousseff.

    Chamando a militância para o "Fora Temer" desta sexta (10), Lula falava dos gastos de Dilma no Alvorada (de R$ 54 mil após seu afastamento) e do "cartão de suprimentos" dela, que precisou de recarga.

    Temer levou mais que o almoço de Dilma.

    A presidente afastada fez a maior parte do "trabalho sujo" em 2015 quando cortou o gasto público contra o desejo de seu partido e acabou por reforçar a atual recessão, que ajudou a conter a inflação.

    Agora, Dilma, Lula e o PT ficarão ao largo da recuperação econômica que pode dar as caras em breve, mesmo que lentamente.

    O país tem hoje 11 milhões de desempregados (42% mais que há um ano) e R$ 39 bilhões em saques na caderneta de poupança de janeiro a maio, um recorde na série histórica.

    O mercado de trabalho continuará jogando contra, mas sondagens entre consumidores e empresas indicam que os demais 90 milhões de empregados podem começar a consumir um pouco mais. A tênue recuperação da indústria, com 11 dos 24 setores em alta, é sinal disso.

    Se Temer se mostrou quase um fiasco do ponto de vista político (com demissões de ministros e recuos), sua equipe econômica agradou o mercado e assumiu no momento em que a crise de Dilma havia chegado a um ponto de inflexão.

    Infelizmente para ela, Dilma hesitou demais com suas idas e vindas em 2015. Ela própria rifou Joaquim Levy (Fazenda) no cargo e abriu o flanco para que o Congresso detonasse qualquer chance de aprovar mais medidas de ajuste, sobre as quais nem ela se convencia.

    Com o PMDB e seus líderes enrolados na Lava Jato, nada também garante que Temer aprovará a base de seu ajuste, a regra de limitar à inflação o aumento dos gastos públicos.

    Mas a sinalização que sua equipe vem dando ao mercado com a troca de comando no Banco Central, o desejo de tornar novamente independentes as agências reguladoras e o discurso fiscalista ("arrecadar um e gastar um", diz Temer) têm surtido efeito sobre as expectativas gerais.

    Muitos dos apoiadores de Dilma e críticos de Temer dizem que a economia foi para o buraco no ano passado por culpa do Congresso, que sabotou a petista.

    Mas Dilma jamais admitiu seus erros e nunca disse o que mercado e setor produtivo estavam sedentos para ouvir.

    *

    No evento no Rio, Lula lançou a campanha "Se é público é para todos", de valorização das empresas estatais.

    As três principais do país, Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil, perderam R$ 273 bilhões em valor de mercado nos governos Dilma. A queda é de 55% em relação ao que valiam antes da petista.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024