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    Fernando Canzian

    Temer ainda não caiu em tentação

    30/06/2016 08h51

    Um caminho fácil e leviano para Michel Temer tirar dois grandes problemas da frente seria partir para uma redução já da taxa básica de juros do país (a Selic).

    Isso ajudaria a aliviar a recessão e a diminuir a velocidade do crescimento da dívida pública, que sobe quase R$ 2 bilhões ao dia, ampliando o deficit do governo.

    O juro básico de 14,25% no Brasil é um dos maiores do mundo. Cada corte de 0,5 ponto percentual na taxa proporcionaria economia anual de R$ 10 bilhões em juros.

    O novo Banco Central de Temer acaba de indicar que dificilmente a Selic cairá antes de outubro, apesar do desemprego e da fraca atividade.

    Uma das maiores barbeiragens de Dilma Rousseff foi reduzir na marra os juros entre 2011 e 2013, estimulando a economia com crédito mais barato (sobretudo de bancos oficiais) e liberando pressões inflacionárias difíceis de domar até hoje.

    Ainda interino e com menos de dois anos para mostrar resultados antes que comece a corrida pela sucessão presidencial em 2018, Temer resiste à tentação de estimular de forma artificial e temerária a economia.

    Ao contrário, o mais provável é que seu governo diminua para menos de 4,5% ao ano a meta de inflação do país para 2018, o que exigirá juros altos por mais tempo.

    O curioso é que todos os problemas deixados por Dilma continuam sobre a mesa de Temer: deficit gigante, inflação ainda elevada, desemprego e recessão. Mesmo assim, a cotação do dólar despenca e já há sinais de algum otimismo com o futuro da atividade econômica.

    A comparação entre o governo interino de Temer e Dilma é mais uma lição para um país que teima em experimentar "novidades" na área econômica em vez de se pautar pela ortodoxia.

    Se Temer ficar, veremos até onde vai esse compromisso quando a eleição de 2018 estiver se aproximando.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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