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    Fernando Canzian

    A última ficha caiu

    08/09/2016 09h14

    Gabriel Mascarenhas/Folhapress
    Michel Temer toma posse no Senado
    Michel Temer toma posse no Senado

    Michel Temer virou presidente do Brasil após conquistar no Congresso bem mais votos que o necessário para mudar a Constituição e aprovar o teto para o gasto público e a reforma da Previdência, os dois vetores de seu plano de governo.

    Na Câmara, obteve 367 votos (são precisos 308, em duas votações). No Senado, conquistou 61, ante os 49 necessários para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional).

    Uma coisa é angariar esse tipo de consenso para depor uma presidente politicamente incapaz em um presidencialismo de coalizão com o apoio de investigados na Lava Jato, ansiosos por blindagem.

    Outra será mexer em privilégios e conter gastos que sobem acima da inflação há 20 anos.

    Mas estamos diante de uma situação de emergência. Para onde se olhe, há um beco sem saída: o rombo nas contas do governo federal quadruplicou nos últimos 12 meses frente à média dos anos anteriores; o que levará a dívida pública a saltar quase dez pontos de um ano para o outro.

    Nossa trajetória é claramente insustentável.

    Ela traz como opções os dois vetores propostos por Temer ou o corriqueiro aumento de impostos dos últimos 20 anos e o agravamento da situação no futuro, em um cenário de mais inflação e insegurança.

    Em 2014, o Congresso teve sua maior taxa de renovação em 16 anos: 44% dos deputados não foram reeleitos.

    Depois do terremoto da Lava Jato, a sobrevivência dos atuais parlamentares está novamente em xeque dentro de um cenário de recessão e queda acentuada na renda e no emprego.

    Sem adiar o problema com mais impostos, os parlamentares terão duas escolhas: não provocar ainda mais seu eleitorado com corte de gastos ou barrar a insolvência.

    Dificilmente um presidente poderia obter maior base do que Temer. A raposa agora não só chefia o galinheiro como faz isso com a principal ameaça de oposição, o PT, desidratado e humilhado pela mesma Lava Jato e o impeachment.

    O final desse processo, com a aprovação ou não das mudanças para recolocar as contas nacionais minimamente em ordem, nos coloca diante um grande "bye bye Brasil".

    A ver o que vamos deixar para trás.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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