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    Fernando Canzian

    Recado das urnas: o circo precisa de um tablado novo

    06/10/2016 08h55

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Santinhos nos arredores da Universidade Mackenzie, terceiro maior colégio eleitoral de São Paulo
    Santinhos nos arredores da Universidade Mackenzie, terceiro maior colégio eleitoral de São Paulo

    A eleição de domingo (2) puniu severamente o PT pelo desfiladeiro econômico em que colocou o país.

    O recado é claro: os brasileiros que emergiram para a chamada nova classe média repudiam o retrocesso.

    Talvez até mais que a corrupção, já que o próprio Lula foi reeleito em meio ao mensalão. A diferença à época é que o país crescia, 4% em 2006 e 6% no ano seguinte.

    A enorme recessão atual traz uma lição principal. Mas o histórico nacional não garante que os políticos tenham entendido sua dimensão.

    Desde a Constituição de 1988, o Brasil vem mantendo a mesma toada de aumentar sem limites seus desequilíbrios fiscais, cobrindo os rombos a cada temporada com mais impostos sobre a sociedade.

    Nos intervalos entre os rombos orçamentários e a subida da carga tributária para tapá-los houve crises, com desaquecimento econômico. Dessa vez o rombo é gigante e ficou extremamente impopular aumentar impostos. A brutal recessão é fruto disso.

    A partir da redemocratização, só dois governos, FHC e Lula, tomaram providências macroeconômicas substantivas para contornar esses altos e baixos. Mas por pouco tempo, levando à repetição do mesmo problema.

    Nas duas ocasiões, a receita foi imposta de fora, em momentos em que FHC (em 1999) e Lula (em 2003) deviam bilhões ao FMI para salvar as contas externas.

    O receituário clássico do Fundo é o seguinte: inflação controlada dentro de um regime de metas, câmbio livre para absorver choques externos (o dólar sobe ou cai de acordo com a oferta da moeda) e superávit primário (a reserva de parte da arrecadação para abater a dívida pública).

    A isso se dá o nome de "tripé macroeconômico".

    Ele funciona como uma espécie de tablado firme que mantém a economia nos eixos, mesmo que os atores em cima protagonizem números de circo ou peças de boa qualidade.

    O importante é a solidez do tablado.

    A crise atual requer a reconstrução dessa base, agora sem o anabolizante dos impostos para reerguê-la. Isso não vai acontecer sem que se gaste menos e melhor os recursos disponíveis.

    Desde os protestos de 2013, o eleitor na arquibancada parece bem mais exigente com a qualidade do espetáculo.

    Os atores no picadeiro continuarão levando as vaias de domingo se não acordarem para isso.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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