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    Fernando Canzian

    'Engraxado', Brasil ainda rateia no desemprego

    20/10/2016 09h15

    "Graxa" é como economistas chamam o efeito que a inflação exerce sobre a renda dos trabalhadores em um ajuste macroeconômico como o atual.

    A inflação achata a renda (R$ 1.000 viram o equivalente a R$ 900 se a inflação foi 10%) e leva a um aumento da produtividade dos trabalhadores. Eles passam a ganhar menos em termos reais para produzir o mesmo.

    Isso leva à queda da inflação. Pois bens e serviços custam salários menores, que também compram menos produtos, obrigando empresas a conter reajustes.

    Há, assim, uma espécie de "lubrificação" na economia.

    Salários e preços voltam a um patamar mais equilibrado, sem que um fique correndo atrás do outro, alimentando o ciclo inflacionário.

    Outra forma de diminuir a renda (e a inflação) é via desemprego, muito mais dolorosa. O sujeito perde o trabalho e deixa de receber.

    Até o fim do segundo trimestre deste ano, o ajuste macroeconômico nesta crise poderia ser considerado "menos ruim", dado os desequilíbrios deixados por Dilma Rousseff.

    No trimestre até junho, a renda real dos ocupados caiu 5,6% e o comércio encolheu algo parecido, o que mostra a importância da renda na economia.

    Cerca de 75% dessa redução se deu pelo efeito da inflação, que corroeu os salários. Só 25% foram culpa do desemprego, que eliminou rendimentos.

    A partir de agosto, a coisa mudou.

    O desemprego passou a contribuir com mais da metade (55%) da queda na renda. Ou seja, o ajuste agora é preponderante em cima de quem perde o emprego.

    A dúvida é se isso vai se agravar ou se haverá uma estabilização na perda da renda e dos empregos nos próximos meses.

    Uma pista é que há uma desaceleração na velocidade de queda da renda. Se ela havia caído -5,6% no trimestre até junho, a redução passou a -3,7% nos três meses terminados em agosto.

    A última grande crise brasileira se estendeu entre 1996 e 2003, até a passagem entre os governos FHC e Lula.

    Além de bem mais longa que a atual, que ensaia leve recuperação, a crise daquele período fez a renda real desabar -16%.

    A grande pergunta agora é se o "engraxamento" pela inflação bastou para equilibrar preços e salários ou a se a economia terá de perder muitas peças ainda, via desemprego, para operar mais azeitada.

    *

    O quadro abaixo mostra em detalhes a atual situação da renda dos brasileiros. No gráfico, quanto ela caiu e a tendência de diminuição de velocidade da queda a partir de julho.16.

    Nas barras, quem mais perdeu (jovens, chefes de família, menos escolarizados) e qual o peso da inflação na queda da renda de cada grupo.

    Editoria de Arte/Folhapress
    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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