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    Fernando Canzian

    Congresso sente o cheiro das quentinhas de Curitiba

    15/12/2016 10h46

    Eraldo Peres - 7.dez.2016/Associated Press
    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), denunciado na Lava Jato
    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), denunciado na Lava Jato

    Um dos maiores problemas do Brasil é que nunca corruptos poderosos tiveram medo de cadeia.

    A reação cangaceira no Senado de Renan Calheiros (codinome "Justiça" na planilha de corrupção da Odebrecht) e na Câmara de Rodrigo Maia (o "Botafogo") contra a Lava Jato são tentativas desesperadas de voltar a esse passado.

    A Lava Jato é hoje o único elemento integrador do país depois das mentiras e da recessão de Dilma Rousseff, da posse de um Temer suspeito e de seu gabinete podre e das demonstrações de corporativismo retrógrado do Congresso, com um batalhão de clientes do departamento de "operações estruturadas" da Odebrecht.

    A ordem do ministro do Supremo Luiz Fux para que a Câmara volte à estaca zero na análise do pacote de dez medidas contra a corrupção desfigurado pelos parlamentares pode parecer intromissão na "independência" de um Legislativo dependente de uma empreiteira.

    Mas ela vai ao encontro do anseio das 2 milhões de assinaturas que apoiam as medidas. Assim como de outros milhões que protestaram nas ruas pela punição de corruptos e corruptores nos últimos meses.

    Hoje temos, entre outros, Sérgio Cabral, José Dirceu, Antonio Palocci, Eduardo Cunha e Marcelo Odebrecht presos. As provas contra eles até aqui se mostraram irrefutáveis.

    Renan "Justiça" ainda não foi condenado a nada. Mas age como se estivesse sentindo o cheiro das quentinhas ao querer intimidar os procuradores com tentativas de puni-los por abuso de poder.

    O projeto seria legítimo não fosse patrocinado pelo próprio Renan e agora. Quem não deve não deveria temer, certo?

    Denunciado na Lava Jato e alvo de outros 11 inquéritos diversos, o presidente do Senado tenta suas últimas cartadas para se proteger e angariar o apoio da turma de citados na operação.

    Nas próximas semanas assistiremos ao "espetáculo do desespero". Quando mais e mais delações mostrarem como uma empreiteira mandava no país financiando campanhas e a vida desses citados.

    Com sua dinâmica própria, apoio popular e dezenas de delatores já pegos no anzol, a Lava Jato mostra ser cada vez menos provável que protelações e esperneio geral livrem seus investigados. Assim como não livrou, no final, o chefe da gangue, Marcelo Odebrecht.

    Dizem que gênio solto jamais retorna à lâmpada. A Lava Jato está no caminho de confirmar essa regra.

    *

    A coluna sai do ar nos próximos meses por conta de uma temporada de estudos fora do país.

    fernando canzian

    É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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