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    Fernando Rodrigues

    Urubus do Congresso

    30/01/2013 03h30

    BRASÍLIA - Ninguém sabe quantas leis o Brasil tem. Seriam perto de 300 mil. Leis não faltam. O que falta é serem cumpridas.

    Mas basta uma tragédia para o Congresso sacar do coldre uma nova proposta de lei. Querem agora uma legislação federal de prevenção contra incêndios --tendo como pano de fundo as mais de 200 mortes na boate Kiss, em Santa Maria.

    Aperfeiçoar normas estaduais, municipais ou criar uma lei fede- ral não fará mal. Entretanto o benefício dessas ações é limitado. As re- gras já existem. A iniciativa do Congresso só comprova o fetiche brasileiro pelo "governo federal nhonhô". Na realidade distorcida do país, se há um problema, Brasília precisa resolvê-lo.

    Alguém se lembra da lei exigindo o registro do nome completo, endereço etc. de cada novo portador de celular pré-pago para evitar o uso por criminosos nas prisões? Não deu em nada, embora o cadastro inútil continue a existir. Custa dinheiro e quem paga a conta são os consumidores.

    A cidade gaúcha de Santa Maria já tem a lei 3.301, aprovada há mais de 20 anos, em 1991. Proíbe "material de fácil combustão e/ou que desprenda gases tóxicos em caso de incêndio" em locais como "boates e assemelhados". Determina também a instalação de saídas de emergência "com respectiva sinalização".

    O que faltou então? Faltou poder público. Um empresário inescrupuloso tem responsabilidade pela falta de rotas de fuga em uma boate. Mas o agente político eleito para comandar a cidade é corresponsável.

    Para cumprir a lei são necessários fiscais decentes e preparados. Sem propensão ao achaque. Profissionais que não estejam ali para cobrar propina e depois repartir uma parte com os políticos que os nomearam.

    No Congresso, deputados preferem propor uma nova lei. Garantem alguns minutos de fama na TV. Há exceções, claro, mas a maioria ali só pensa em surfar na desgraça alheia.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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