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    Fernando Rodrigues

    Atraso institucional

    10/04/2013 03h30

    BRASÍLIA - A altercação entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e representantes de associações de magistrados é um daqueles episódios que nos obriga a lembrar como ainda falta muito para o Brasil amadurecer institucionalmente.

    Cabe aqui uma ressalva. Joaquim Barbosa parece querer o bem do Brasil. Poucas vezes o país assistiu a um juiz tocar o dedo em tantas feridas do Poder Judiciário.

    Mas aí chega-se ao outro lado da moeda. Que tipo de República precisa que o presidente da sua suprema corte marque uma audiência com juízes para passar uma descompostura pública?

    Joaquim Barbosa declarou-se surpreendido com a aprovação de uma emenda constitucional que ampliou o número de Tribunais Regionais Federais. A proposta já tramitava havia 13 anos. Nada existia de sorrateiro nem de segredo no fato de "juízes sindicalistas" defenderem esse aumento de cargos --sem fazer esforço correlato para melhorar a produtividade dos tribunais.

    Uma vez, há cerca de 20 anos, o então presidente da República Itamar Franco surpreendeu um de seus maiores adversários, o político baiano Antonio Carlos Magalhães --que dizia possuir um dossiê cheio de acusações contra o Planalto.

    ACM foi convidado para uma audiência. Na hora do encontro, o presidente chamou ao local os repórteres que faziam a cobertura do Planalto. Pediu então que o baiano mostrasse as tais denúncias. Não havia nada, exceto recortes de jornais. O adversário ficou bravo, mas nunca mais espalhou boatos sobre Itamar.

    Ao usar a mesma tática e convocar repórteres para assistir à carraspana que passou nos colegas, Joaquim Barbosa não esvaziou os "juízes sindicalistas". Ao contrário. Acuados, os magistrados (seres quase inimputáveis) tendem apenas a defender ainda de maneira mais coesa os seus privilégios e mazelas.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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