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    Fernando Rodrigues

    Agnulo

    04/05/2013 03h30

    BRASÍLIA - A capital da República protagonizou um caso obscuro e patético nesta semana. O governo local quase comprou 17 mil capas de chuva para serem usadas pela sua Polícia Militar durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.

    Ocorre que em junho e julho Brasília tem um clima semelhante ao do Saara. Às vezes, os dias são até mais secos. Para piorar, as 17 mil capas plásticas teriam um preço médio unitário de R$ 310,00. Nem se fossem da grife Calvin Klein poderiam ter esse valor.

    A parte positiva desse episódio foi a divulgação prévia da compra das capas no portal de transparência de gastos com a Copa das Confederações e com a Copa do Mundo. Essa publicidade obrigou o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, a rapidamente cancelar a aquisição e a demitir o comandante-geral da PM do Distrito Federal.

    O desfecho é um exemplo de como a Lei de Acesso à Informação trouxe um elemento civilizatório para a política brasileira. Sem essa nova obrigação legal, cuja vigência completa um ano neste mês, as tais 17 mil capas de chuva teriam sido adquiridas e jogadas em algum almoxarifado.

    É claro que o caso poderia ter sido encerrado com a punição dos responsáveis reais pela lambança. Mas Agnelo Queiroz (ex-PC do B e hoje no PT) preferiu apenas fazer autopromoção. Espalhou nas redes sociais um anúncio: "Transparência, essa é a nossa bandeira".

    O slogan teria de ser mais completo: "Transparência, essa é a nossa bandeira. Governança, esse não é o nosso negócio". Agnelo só demitiu o chefe da PM e cancelou a compra das capas de chuva após o escândalo surgir na mídia. Não houve um funcionário sequer do governo petista com capacidade de olhar e brecar previamente o despautério kafkiano que estava prestes a ocorrer.

    Brasília, como se sabe e diz, é a síntese do Brasil. Sobretudo no que o Brasil tem de pior.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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