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    Fernando Rodrigues - Euclides Santos Mendes

    Espionagem e história

    04/09/2013 03h30

    BRASÍLIA - Quando há casos de espionagem entre governos, sempre me ocorre uma dúvida: se não fosse pelos vazamentos, como os cidadãos teriam acesso a esses dados?

    Não se trata de defender a espionagem. É só uma constatação. A maioria dos países não tem hoje uma política para se proteger de espionagem e tampouco uma governança eficiente para preservar o que se passa dentro do ambiente do Estado.

    Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), os servidores públicos brasileiros usam mensagens eletrônicas de maneira intensiva. Durante a administração de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), e agora sob Dilma Rousseff, as autoridades passaram a ir além dos e-mails. Já cansei de trocar SMS --os torpedos via telefone celular-- com ministros de Estado.

    É muito rápido e prático. Mas um aspecto é negligenciado. Não existe uma política oficial de arquivamento desses bilhões de mensagens ".gov". No passado, havia memorando em papel. Agora, a história do Brasil está sendo redigida em meio eletrônico. Sem preservar esse acervo, historiadores e interessados terão imensa dificuldade no futuro para descrever o que se passou no tempo atual.

    Alguns livros têm sido lançados com riqueza de detalhes sobre períodos recentes do Brasil. Um deles é "Getúlio", de Lira Neto. Há documentos daquela época, tudo impresso em papel. Não existia internet nem um getulio@gmail.com.

    Neste momento em que há um surto de indignação sobre a espionagem dos Estados Unidos, o governo brasileiro pensa em como evitar tal bisbilhotice. Seria útil também gastar energia a respeito de como arquivar o que se produz em meio eletrônico no âmbito do Estado.

    Dilma Rousseff usa cerca de dez contas de e-mails diferentes para preservar a privacidade de seus atos. Muito bem. E quem guarda tudo isso de maneira oficial para a posteridade? Com certeza, ninguém.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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