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    Fernando Rodrigues - Euclides Santos Mendes

    O poder de uma foto

    11/12/2013 03h30

    BRASÍLIA - Cético por dever profissional, sempre fico constrangido quando uma notícia desperta em mim um sentimento de simpatia ou esperança. No meu ofício, o otimista é só um repórter mal-informado.

    Ainda assim, assumo o risco. Dilma Rousseff acertou na mosca ao convidar os ex-presidentes brasileiros para que fossem juntos ao funeral de Nelson Mandela, na África do Sul. A imagem da petista junto com Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor e José Sarney nos remete a um Brasil que talvez se torne realidade um dia --um país no qual os desiguais convivam com urbanidade e os interesses da nação se sobreponham a divergências ideológicas ou partidárias.

    É claro que não é esse ainda o caso. Mas a cada reunião dessas de ex-presidentes, um passo a mais é dado. Pode parecer pouca coisa. Não é. Não existem cenas iguais do passado por uma simples razão: ex-presidentes nunca se encontravam nem se deixavam fotografar todos juntos. Passada a ditadura militar (1964-1985), nada justificaria os civis convidarem os generais para algum convescote.

    Mesmo no início do atual ciclo democrático, faria pouco sentido os sucessores imediatos de Fernando Collor chamá-lo enquanto os processos relativos ao período do impeachment ainda estavam inconclusos.

    Muitos devem ter torcido o nariz ao saber que Dilma convidou Collor e Sarney. Não é fácil defender seus governos. Só que os dois carregam a experiência de ter sentado na principal cadeira do Palácio do Planalto. Nos EUA, enquanto era vivo, Richard Nixon também participava de encontros de ex-presidentes --mesmo tendo deixado a Casa Branca acossado pelo risco de impeachment.

    Em política, ingenuidade é mortal. O Brasil continua basicamente igual ao que era antes da viagem de Dilma e seus antecessores à África do Sul. Mas a foto de todos juntos torna o país um pouco mais civilizado e urbano. Uma imagem, às vezes, é tudo.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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