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    Fernando Rodrigues

    O lulismo já voltou

    05/04/2014 03h00

    BRASÍLIA - O movimento "volta Lula" ainda tem um futuro incerto, mas o lulismo já está reinstalado no Planalto. Com as trocas recentes de ministros, saiu de cena o estilo anódino e subserviente ao modelo arranca-tocos de Dilma Rousseff.

    Desde a queda de Antonio Palocci da Casa Civil, em 2011, não se ouvia um assessor direto da presidente pronunciar frases como as de Ricardo Berzoini, novo ministro responsável pela articulação política. De repente, o Palácio do Planalto passou a achar que o PT precisa fazer mais concessões a seus aliados.

    Berzoini transformou-se quase num avatar de Lula ao vocalizar esse discurso mais ameno. Há carinho para distribuir aos que no passado Lula chamava de 300 picaretas. Eis dois exemplos da nova linguagem palaciana de conciliação: "Queremos que o PMDB e outros aliados se apropriem dos bons resultados junto com o PT" e "não queremos uma hegemonia só do PT. Queremos uma hegemonia do conjunto da base".

    Quando Palocci deixou o Planalto, Dilma enxergou ali uma oportunidade para se livrar de uma vez da pecha de "poste do Lula". Aproveitou e instalou a novata Gleisi Hoffmann como ministra da Casa Civil. Colocou Ideli Salvatti na articulação política. Promessas políticas, as duas reagiam com timidez se a presidente levantava a voz e ordenava-as a virar a cara para aliados no Congresso.

    Ocorre que o Brasil tem mais de 30 partidos políticos. O PT tem a maior bancada de deputados, mas isso representa só cerca de 17% da Câmara. Nesse ambiente pulverizado, é ingenuidade achar possível prescindir dos tais 300 picaretas. Não se trata de conceder licença para roubalheira desenfreada, mas estabelecer limites de cooperação mútua decente.

    É essa a abordagem atual do Palácio do Planalto. Lula tem papel relevante nessa guinada. O ex-presidente está voltando aos poucos. Só não há como saber até que ponto ele deseja realmente ser protagonista.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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