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    Fernando Rodrigues

    A imagem trincada

    16/04/2014 03h30

    BRASÍLIA - A presidente da Petrobras, Graça Foster, fez um depoimento sóbrio ontem no Senado. Falou sobre as péssimas transações realizadas pela estatal. Reconheceu que a compra de uma refinaria nos EUA "não foi um bom negócio".

    Numa resposta, Graça Foster rebateu um senador de oposição que chamara a Petrobras de "quitanda", uma empresa na qual todos passariam para dar uma beliscada num produto ou outro. A impressão geral foi a de que ali estava uma servidora dedicada ao bom funcionamento da máquina pública. Até aí, tudo bem. Mas não era esse o ponto.

    Observado do ângulo eleitoral, o depoimento foi um desastre. As cenas estão gravadas. Voltarão à TV na campanha. Não houve desculpa a respeito da depreciação do valor da Petrobras. Milhares de brasileiros perderam dinheiro ao comprar ações da empresa com o saldo do FGTS.

    O aspecto principal desse episódio da Petrobras é o dano causado na imagem de boa gestora da presidente Dilma Rousseff. A petista se enredou sozinha em um labirinto sem saída. Disse que sua decisão sobre o mau negócio com a refinaria nos EUA foi tomada sem ter acesso a todas as informações. Mas por que, então, o diretor responsável pela omissão só foi demitido agora se o erro tão grave foi causado em 2006?

    Graça Foster não teve uma resposta satisfatória a essa indagação. Seria algo indizível. Muitos estiveram ou estão na Petrobras por conveniências políticas. Tome-se o caso do ex-presidente da empresa José Eduardo Dutra. Ex-presidente também do PT, ele é hoje diretor corporativo e de serviços. Político afável, é comum vê-lo postando no Twitter comentários políticos ou sobre futebol durante o horário de trabalho.

    Dilma se elegeu em 2010 com dez partidos ao seu lado. Essa gente gosta de dinheiro e de cargos. Lula distribuiu cargos a granel. Dilma sabia de tudo. Inclusive do aparelhamento que persiste dentro da Petrobras.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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